Nicolas Sarkozy nunca aceitou de bom grado a derrota embaraçosa sofrida às mãos de François Hollande nas últimas presidenciais francesas. O antigo presidente convenceu-se de que perdera não por causa do seu caráter fraturante ou pelo facto de não ter cumprido quase nenhuma das suas promessas eleitorais, mas por não ter ido o suficiente para a direita.
Disse na noite em que perdeu a reeleição que os franceses não o voltariam a ver na corrida a cargos públicos, mas regressou dois anos depois com a mesma “expectativa messiânica” – palavras de Rubén Amón no “El País” – e pronto a corrigir a moderação passada. Acabou mais derrotado no domingo do que há quatro anos, frente a Hollande. Ficou em terceiro nas primeira volta das primárias dos Republicanos e saiu da corrida antes do esperado. Sarkozy tentou uma última acrobacia política e acabou destroçado no chão.
O antigo presidente imitou quanto pôde o programa de Marine Le Pen, na esperança de que o eleitorado de centro-direita preferisse um mimo ao original. Usou as mesmas alusões islamofóbicas – propôs o fim do hijabe nas universidades, a ilegalização do burquíni em todas as praias francesas e o fim dos almoços escolares especiais para crianças muçulmanas, que não comem porco –; levou água ao moinho de Donald Trump depois da sua vitória na América, alinhando um discurso contra as elites francesas e o politicamente correto – ele que é um antigo presidente e primeiro-ministro –; prometeu limitar os direitos de crianças nascidas de pais estrangeiros e disse que, “quando alguém se torna francês, os seus antepassados passam a ser os gauleses” – ele que é filho de um pai húngaro.
De novo, Rubén Amón: “Sarkozy dizia querer reformar o capitalismo, reconstruir a république irreprochable, tornar-se o maquinista da Europa no lugar de Angela Merkel e devolver aos seus compatriotas a superstição mitterrandista da grandeur”.
Não o conseguiu. Sofreu com o facto de o seu partido recém–batizado ter optado por primárias livres, quando a sua grande base de apoio estava entre os 200 mil militantes dos Republicanos. Os eleitores independentes mais moderados optaram por Juppé e os católicos conservadores apostaram no seu fiel de longa data, François Fillon, o mesmo homem que na década de 80 votou contra a despenalização da homossexualidade em França. A Sarkozy pesou também a decisão, tomada em setembro por um coletivo de procuradores, que recomendou que o antigo presidente seja acusado por financiamento ilegal na sua campanha de 2012.
A acreditar nas suas palavras de domingo, Sarkozy decidiu retirar-se de vez da política. “É tempo de tentar uma vida com paixões mais privadas do que públicas”, disse, concedendo uma derrota particularmente incómoda para Fillon, seu antigo primeiro-ministro, que Sarkozy menosprezou ao longo da campanha e em quem recomenda agora o voto. Segundo Sarkozy, este é o seu fim: “Não sinto azedume ou tristeza e desejo tudo de melhor para o meu país.” F. R.