A surpresa que causa a quem passa, e nela repara, alia-se à estranheza de encontrar tal frase em azulejos, e não pintada com tinta diretamente na parede. Será alguma mensagem com um significado mais vasto? Será algum agradecimento extremo? Até o facto de ter sido escrito por uma mulher (pista deixada pela forma feminina do agradecimento: «obrigada»), e de agradecer o cuidado que alguém supostamente terá tido com o seu estado de saúde é intrigante, deixando uma sensação como a de Daniel Faria: «Devo ser a véspera / (…) / Ou a pergunta na hora de partir”…
Enfim, centremo-nos na própria frase, que já me acompanha há alguns anos, mas também me foi enviada por um amigo, o Jaime. Concentremo-nos, pois, no conteúdo da própria frase. Se alguém já está melhor é, certamente, porque já esteve em pior situação; é porque a vida já lhe trouxe alguns problemas. E isto é, no fundo, o que a todos acontece. Há dias melhores, outros piores. Há dias em que tudo flui harmoniosamente, em que tudo acontece de forma suave e calma, e há outros dias, caóticos, em que os sobressaltos se atropelam, e nos atropelam, e em que os acontecimentos empurram para um sofrimento ou angústia que parece não ter fim, e em que sentimos, como dizia Fernando Namora, que «Hoje é o dia de amanhã».
Sobretudo em momentos em que existem mais sentimentos e vivências negativas, seja por questões de saúde, seja por outras, quando as nuvens negras parecem sair de cima de nós, sentimo-nos muito melhor, mais aliviados, pois, «se quem confia a própria dor perscruta, / maior glória tem em ter esperança», como diz Carlos de Oliveira.
E é nestes momentos que conseguimos agradecer – agradecer ao médico que nos curou, à enfermeira que nos tratou, ao amigo que nos ouviu, ao desconhecido que nos sorriu… E até mesmo aos nossos pais, porque é a eles que devemos a vida.
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services