Fazem-nos conscientes de que os jornais são distintos, mas não deixam de ser os mesmos recursos humanos e, portanto, a mesma forma de estar no jornalismo.
Quero com isto dizer que, quando um jornalista desta casa se pronuncia sobre um dos dois jornais, não está a tomar dores alheias, mas dores comuns. Somos os mesmos. Posto isto, durante esta semana, e a propósito da agressão levada a cabo por militantes do Partido Nacional Reformador (PNR) a dois espanhóis e à sede do partido Livre – que o i denunciou na sua primeira página de 14 de novembro -, no dia seguinte, o mesmo jornal publicou declarações do líder do PNR que, entre outras alarvidades, diz não querer em Portugal “o islão, mulheres de burca nas ruas ou burquínis nas praias.”
Esta é uma discussão antiga entre jornalistas: devemos dar voz a estes movimentos ou devemos, pelo contrário, ignorá-los na esperança de que assim desapareçam? Tendo a achar que a função do jornalista não é de dar a visão de um mundo cor-de-rosa e pouco realista, apesar de pensar que podemos evitar dar voz em primeira página a estes radicais. Mas, acima de tudo, acho que a discussão é premente – e tornou-se ainda mais com a eleição de Trump nos EUA. E a discussão diz respeito a estes movimentos, mas também à forma como a comunicação social os aborda.
Ora, na sequência destas notícias, quis a deputada Isabel Moreira escrever, num comentário numa rede social, que “o i já não merecia ser o jornal de ninguém há muito”, criticando a opção da primeira página. Sou, e serei sempre, defensora do escrutínio, que deve ser cada vez maior, do jornalismo. Mas não consigo entender como é que uma deputada – que se tem batido por causas tão fundamentais para a liberdade dos cidadãos – é capaz de afirmar, com toda a displicência do mundo, que um jornal deveria encerrar. Aliás, tenho de admitir que nunca entendi como é que alguém pode ter prazer ou torcer pelo encerramento de uma empresa – seja na área da comunicação social ou noutra – e, com isto, torcer pelo desemprego de pessoas que procuram diariamente fazer o seu trabalho da melhor forma que podem e sabem.