Vodafone Mexefest. Toty Sa’Med a acalmar a noite agitada

Detemo-nos por instantes na Sociedade de Geografia de Lisboa, um dos mais belos edifícios onde decorre esta edição do Vodafone Mexefest. A presença de Toty Sa’Med justifica-se muito, sobretudo depois de não termos tido oportunidade de o ver, há um par de semanas na Galeria Zé dos Bois.

Ao subirmos a escadaria alcatifada para o segundo andar, já se ouve a voz do músico angolano, suave e segura a descer para nos vir buscar. Entramos e Toty, de fato preto e guitarra acústica pintada de preto, vai cantando "Amor da Rua 11", poema do angolano Aires Almada Santos, presente no primeiro EP, "Ingombota".

Canta depois uma belíssima composição em tons de bossa nova, com aquele belíssimo arrastar do sotaque angolano, um tema de coração partido – "Maldita mulata que arrumou a minha vida",queixa-se. Promete que vamos ouvi-lo no primeiro disco.

Toty acalma-nos a correria da noite. Toca guitarra que é um sonho e faz da voz o que quer. Então wueremos mesmo ficar a ouvi-lo em silêncio. A ele e ao seu pedal de loops, onde cria bases rítmica com umas baquetas-vassoura, ora delicadas percussões, ora batuques mais espevitados para acompanhar nas cordas. Pede palmas a acompanhar um samba-semba (dois géneros que são uma espécie de netos afastados), e diz sentir-se em Luanda (a brincar, claro, já que Lisboa não consegue rivalizar agora com os 30 graus da capital angolana).

Prossegue com mais um tema – e a guitarra a deslumbrar de novo, a bailar pelos tetos da Sociedade se Geografia juntamente com o scat jazzístico da sua voz – nascido de uma tarde de encontros com Kalaf e Sara Tavares. Olhamos para relógio e ainda temos mais um bocadinho antes de voltar à rua. Toty puxa da guitarra elétrica para cantar "Namoro", já cantado por Rui Mingas, Sérgio Godinho ou Fausto – e sorrimos com a beleza da música lusófona, que viaja na voz e nas mãos de tantos talentos. Os do passado e os do agora, aqui nas Portas de Santo Antão.

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