Chocada com sucesso de Fillon, Le Pen reza por Juppé

Líder da Frente Nacional tinha apontado baterias a Sarkozy ou Juppé. Fillon obriga-a a repensar estratégia.

À semelhança de tantos outros, Marine Le Pen foi apanhada na curva com a vitória surpreendente de François Fillon, na primeira volta das eleições internas do partido Os Republicanos. A líder do partido de extrema-direita francês é apontada como a candidata a abater na segunda volta da corrida presidencial, marcada para maio de 2017.

Ciente dessa responsabilidade e revitalizada pelo balão de oxigénio que veio do outro lado do Atlântico, com a vitória de Trump, Le Pen aposta forte na descredibilização do establishment, das ideias de inclusão multicultural e da União Europeia, argumentos que entram no menu de Alain Juppé e, apesar da tentativa de distanciamento recente, de Nicolas Sarkozy.

A questão é que o ex-presidente já abandonou a corrida e o ex-primeiro-ministro agarra-se como pode à nomeação presidencial do seu partido, abalado pela vitória categórica de Fillon, que lhe roubou o protagonismo (e o favoritismo) de várias semanas. Face ao exposto, é certo e sabido que Le Pen estará colada à televisão este domingo e, seguramente, com os dedos cruzados a favor do moderado Juppé, o representante perfeito do antagonismo com a Frente Nacional.

É que Fillon também nega a multiculturalidade francesa, defende uma política restrita de imigração, torce o nariz ao crescimento do Islão em França e quer ser o candidato antissistema. Mais, contrariamente a Juppé e ao próprio Sarkozy, nunca viu o seu nome envolvido em escândalos de corrupção, pelo que dificilmente poderá ser alvo dos discursos seguramente já redigidos e decorados por Le Pen, sobre a desonestidade e falta de integridade de quem governa o país. Tudo somado, sobram poucas bandeiras exclusivas da Frente Nacional.

«A França está mais à direita do que nunca», chegou a admitir Fillon, citado pelo The Guardian, ao mesmo tempo que se comprometia a impedir uma guinada definitiva nessa direção. Caso vença hoje, Le Pen terá de encontrar rapidamente o seu lado esquerdo, para atacar em força.