Vinte e quatro horas depois da candidata ecologista às eleições presidenciais, Jill Stein, ter formalizado o pedido de recontagem dos votos no estado do Wisconsin, também o Partido Democrata decidiu participar no processo, depois de vários dias de silêncio e constantes pedidos nesse sentido, através de um artigo redigido pelo seu advogado Marc Elias, no sábado, e publicado no site Medium. Em resposta, Donald Trump descreveu a intenção dos derrotados como um “truque” e rescreveu, no Twitter, as palavras de admissão de derrota de Hillary Clinton.
De acordo com os dados mais recentes, o número de votos que separa Hillary de Trump já ultrapassou os dois milhões, com vantagem para a Democrata. Ainda assim, o sistema eleitoral dos EUA define que a eleição presidencial é decidida pelo número de votos no Colégio Eleitoral – sendo cada estado atribuído com um predeterminado deste tipo de votos, calculado em função da representação do mesmo no Congresso – e não através da contabilização total votos a nível nacional. Por esta razão, foi o magnata quem chegou à Casa Branca e não a antiga secretária de Estado Barack Obama.
Antes das eleições, os olhares dos norte-americanos (e do mundo) estavam fixados na Florida, na Carolina do Norte, na Pensilvânia, no Michigan ou no Wisconsin, estados onde a inclinação para os Republicanos ou para os Democratas é variável de eleição para eleição e nos quais, também no dia 8 de novembro, se podia decidir muita coisa. Se nos primeiros dois a vitória de Trump, embora suada, foi concludente, nos outros três, a diferença situou-se perto dos 107 mil votos a favor do magnata, no total.
Mesmo derrotada por margens pequenas nestes estados, Hillary admitiu, naturalmente, a vitória de Donald Trump e remeteu-se ao habitual exílio que espera os candidatos vencidos neste tipo de disputas eleitorais de grande escala e ainda maior aparato.
Nos últimos dias, no entanto, e à medida que os números finais da votação no Wisconsin, Pensilvânia e Michigan – este ainda sem dados definitivos – começaram a surgir, juntaram-se-lhes rumores sobre “discrepâncias” aquando da comparação entre o número de votos eletrónicos e de votos em boletim em Hillary. Segundo uma investigação levada a cabo por um grupo de informáticos do Centro de Segurança Informática da Universidade de Michigan, a Democrata obteve menos 7% dos votos nos condados apetrechados com máquinas de votação eletrónica. Pese a ausência de provas concretas sobre uma eventual manipulação dos resultados nestes locais – alegadamente com patrocínio russo – a equipa de campanha Clinton foi bombardeada com pedidos de recontagem dos votos naqueles três estados.
Um pedido que não foi imediatamente acedido por Hillary, mas por Stein, candidata do Green Party às presidenciais, que reuniu durante a semana que passou mais de 4,5 milhões de dólares em contribuições para a recontagem, alegando estar na posse de “provas convincentes de anomalias eleitorais” e demonstrativa das tais “discrepâncias significativas nos votos totais”.
A tomada de posição de Stein foi rotulada pelo presidente eleito, numa mensagem publicada no Twitter, como um “truque”, pouco depois de tornado público que também os Democratas iriam participar na recontagem no Wisconsin – onde Hillary perdeu por cerca de 30 mil votos.
Escreveu então Marc Elias, advogado da campanha de Clinton, no sábado, que o partido de Hillary não tomou a iniciativa de proceder à recontagem de votos naquele estado, uma vez que não foram encontradas “quaisquer provas de hacking ou tentativas externas de adulteração” das máquinas de voto. “Mas agora que a recontagem foi iniciada no Wisconsin, pretendemos participar, com o intuito de garantirmos que o processo se desenrola de uma maneira que seja justa para todas as partes”, justificou o jurista.
Uma mudança de postura que levou Trump novamente à carga, publicando uma sequência de sete tweets, num curto espaço de tempo, nos quais transcrevia partes do discurso de reconhecimento da derrota na corrida presidencial de Hillary.