Um assessor do primeiro-ministro esteve prestes a ser detido este verão em Lisboa, pela Polícia Judiciária, no âmbito de um inquérito que investiga crimes de corrupção passiva e auxílio à imigração ilegal. Em causa estão ilegalidades na atribuição de vistos portugueses em território cabo-verdiano.
Segundo a “Sábado”, que revelou ontem esta história, Bernardo de Lucena, que foi embaixador de Portugal em Cabo Verde entre setembro de 2011 e janeiro de 2016, acabou por ser investigado após uma denúncia anónima. Lucena desempenhava aquele cargo até se juntar à equipa de António Costa para ser assessor diplomático, a 26 de fevereiro deste ano.
Num comunicado enviado ontem, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou que o primeiro-ministro chegou mesmo a ser ouvido nas escutas feitas a Bernardo de Lucena, apesar de este não ser considerado atualmente suspeito: “Confirma-se que foram intercetadas comunicações telefónicas nas quais intervém acidentalmente o primeiro-ministro.”
Como as escutas apanharam António Costa, continua fonte oficial, o Ministério Público encaminhou-as para o Supremo Tribunal de Justiça, tendo o presidente daquele tribunal determinado “a destruição imediata dos elementos relativos a essas mesmas interceções telefónicas, por as considerar manifestamente estranhas ao processo e sem qualquer relevância para a investigação”.
Na sua edição de hoje, a “Sábado” conta que a detenção de Bernardo de Lucena esteve preparada e que seria levada a cabo pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária e pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal. A revista explica, porém, que os indícios podem não ter passado de uma mera denúncia caluniosa ou de um erro – algo que vai ao encontro do que informou a PGR, ou seja, que o assessor de Costa não é suspeito neste inquérito.
Bernardo de Lucena é licenciado em Direito e nos anos 90 foi adjunto de João de Deus Pinheiro – então ministro dos Negócios Estrangeiros no governo de Cavaco Silva.