Houve um tempo em que Chapecó se escrevia com X: Xapecó. Depois assumiu-se o CH: Cidade de Chapecó. Os livros não dizem qual o verdadeiro significado da palavra. As buscas na net também não são mais eficazes. Várias são as versões. Cabe-me escolher uma, fico com esta: a etimologia vem da língua caingangue, índigena dos Estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul – junta “cha” (cachoeira) e “embetcó” (caça nocturna aos ratos com fachos luminosos). Fantasista quanto baste.
Portanto, Chapecó, Estado de Santa Catarina, sede da Associação Chapecoense de Futebol, última vítima de um acidente de aviação, perto de Medellín, na Colômbia, onde iria disputar a primeira mão da final da Copa Sul Americana, frente ao Atlético Nacional. Os colombianos, num gesto generoso, decidiram que não haverá disputa: entregam o troféu ao clube brasileiro. Será o mais brilhante e mais triste troféu da sua história, não tão antiga quanto isso.
Nos anos-70, o futebol no Estado de Santa Catarina era totalmente amador e riscava zero na infernal maquinaria do desporto do Brasil. Eis de onde surgiu a ideia de fundar a Chapecoense: era preciso um clube capaz de representar condignamente a cidade de Chapecó. Fundiram-se os dois mais populares do pedaço: Atlético Chapecó e Independente. Hoje em dia, reparte a atenção dos adeptos do Estado com o Avaí, Criciúma, Figueirense e Joinville.
O aparecimento da Chapecoense na alta roda do futebol brasileiro demorou um tempo, como não podia deixar de ser. Só em 2013 surgiu na Série A do campeonato conhecido por Brasileirão.
Primeiros títulos Para trás ficavam momentos históricos como as vitórias no Campeonato Catarinense de Futebol de 1977, batendo o Avaí por 1-0 na final ou a conquista da Taça de Santa Catarina, em 1979, primeiros títulos do clube.
Em 1996, segundo título de campeão estadual, mas desta vez envolto numa terrível polémica com o outro finalista, o Joinville que, temendo pela segurança dos seus atletas, não compareceu na segunda mão da final. A vitória foi inicialmente atribuída aos homens de Chapecó, mas acabou por marcar-se novo jogo e o triunfo pode comemorar-se no local devido: sobre a relva.
Não tardariam a chegar momentos de dura crise. O acumular das dívidas obrigaram á intervenção de investidores externos e o clube chegou a designar-se Associação Chapecoense Kindermann/Mastervet, uma parceria que terminaria em 2004.
Novas direcções apareceram, decididas a devolver a Chapecoense a um lugar visível e a retomar a seriedade do projecto inicial. Era a entrada no futuro.
2014 Dez anos mais tarde, a Chapecoense estreia-se no principal campeonato do Brasil. Classifica-se na 15ª posição e garante a permanência. Está no ponto mais alto da sua história até então e consolida-se desportivamente á custa de alguns resultados tonitruantes como a vitória por 5-0 sobre o Internacional de Porto Alegre ou a de 5-1 sobre o Palmeiras.
Em 2015 participa pela primeira vez em competições internacionais, jogando a edição desse ano da Copa Sul Americana, atingindo os quartos-de-final e só sendo eliminada pelos poderosos argentinos do River Plate. Derrota por 1-3 em Buenos Aires; vitória por 2-1 no Arena Condá. A Chape, como é ternamente conhecido pelos seus aficionados, ganha estatuto. No ano seguinte chegará à final da competição e será o Destino a derrotar os catarinenses.
Esse duplo confronto com o River Plate é considerado o momento mais alto da vida da Chapecoense. Até que chegou o ano maldito de 2016.
Treinado por Luiz Carlo Saroli, mais conhecido por Caio Junior, que passou como jogador pelo Vitória de Guimarães, Estrela da Amadora e Belenenses, a Chapecoense apoia-se em nomes como os dos avançados Bruno Rangel, Ananias, Lucas Gomes, dos médios Cléber Santana, Matheus Biteco ou Rafael Bastos, dos defesas Rafael Lima ou Marcelo, e dos guarda-redes Danilo ou Marcelo Boeck, que esteve no Sporting.
A uma jornada do final do Brasileirão, a Chape encontra-se neste momento no 9º lugar, com 52 pontos, mais três do que São Paulo e Fluminense, e com acesso á próxima Copa Sul Americana. Tendo sido a adversária do Palmeiras no jogo que confirmou o título do “Verdão”, estava à beira do sonho de conquistar a sua primeira competição internacional – algo que sucederá se a CONMEBOL concordar com a sugestão dos dirigentes do Atlético Nacional. Depois de ter ultrapassado os compatriotas do Ciuabá, na segunda fase, eliminou o Independiente, da Argentina, nos oitavos-de-final. Nos quartos-de-final, a vítima foi o Junior, da Colômbia, e nas meias-finais o grande San Lorenzo de Almagro.
A final, a duas mãos, deveria ter tido lugar a 30 de Novembro e a 7 de Dezembro. A morte não deixou.