Torino, “Il Grande Torino”; Manchester United, “The Busby Babes”; Alianza Lima; seleção nacional da Zâmbia; The Strongest; Chapecoense. Todos tiveram um terrível destino em comum: a morte que, às vezes, cai do céu.
Equipas de futebol destruídas, dizimadas, corpos desfeitos à mistura com ferro e fogo, uma história de tragédias que ontem teve mais um capítulo, em Medellín, na Colômbia. Passaram-se já quase 80 anos sobre o desastre aéreo que mais diretamente marcou os portugueses. Em Lisboa, na véspera, o Torino, uma equipa fantástica que dominava o “calcio”, com artistas como Bacigalupo, Ballarin, Rigamonti, Loik e Valentino Mazzola, perdera no Estádio Nacional com o Benfica na festa de homenagem a Francisco Ferreira. E foi uma manhã bonita, no entanto. O Fiat G.212, comandado por Perluigi Meroni, fizera escala em Barcelona, pelo meio-dia. Tudo fazia crer numa viagem calma. Erro fatal. Na aproximação a Turim, o avião despenha-se junto da Basílica de Superga, a 669 metros de altitude. Às 17h05 só o silêncio respondia ao apelo da torre de controlo. Havia 31 pessoas a bordo. A morte levou todas.
Munique Chamavam-lhes os “Busby Babes”: o Manchester United de Matt Busby preparava uma equipa que iria chegar ao topo do futebol europeu. Em Belgrado, frente ao Estrela Vermelha, um empate (3-3) garantira o apuramento para as meias–finais da Taça dos Campeões. Os ingleses tinham fretado um charter: Airspeed Ambassador, da British European Airways. A escala em Munique foi tumultuosa. Nevava. O piloto, James Thain, era intrépido. Fora tenente da RAF durante a ii Grande Guerra. Sentira problemas ao levantar, ainda na Jugoslávia: os motores pareciam não atingir a máxima potência. Havia um nervoso miudinho entre os passageiros. Da torre vinha o conselho: adiar a partida. Mas Thain e o seu copiloto, Rayment, também ele herói de guerra, tinham pressa de voltar a casa. O avião deslizou sobre a pista e ganhou velocidade: aos 85 nós, tudo parecia correr normalmente; aos 117 nós já não havia volta atrás. Cento e dezanove nós (220 km/h) é a velocidade mínima para garantir a descolagem. Não foi atingida. Pelo contrário: o aparelho manteve-se em terra, destruiu a rede que separava a pista de uma estrada próxima e embateu numa casa, incendiando-se. Oito jogadores morreram, entre os quais Duncan Edwards, uma jovem estrela que faleceu no hospital 15 dias mais tarde. Barry e Blanchflower não voltaram a jogar. Bobby Charlton seria o centro da reconstrução do United, que se tornaria nove anos mais tarde campeão da Europa.
Vidas perdidas Contam-se às dezenas os acidentes aéreos que marcaram para sempre clubes desportivos. Uns ficaram na memória universal, como o da equipa uruguaia de râguebi, Old Christians, nos Andes chilenos e que deu um filme, “Survive!”, marcado por cenas de canibalismo por parte dos sobreviventes.
Em 1977, o dramático acidente no aeroporto de Santa Catarina, na Madeira, só não contou com a equipa do Barreirense entre as 131 vítimas, porque à última hora houve mudança de planos. Mas o árbitro do jogo desse fim de semana entre Nacional e Barreirense, Guilherme Alves, e os seus auxiliares perderam a vida.
Dez anos mais tarde, no dia 8 de dezembro de 1987, um avião da marinha peruana Fokker F-27 mergulhou no Pacífico a seis milhas de distância do seu destino, a cidade de Callao, arrabalde de Lima onde se situa o aeroporto que serve a capital do país. A bordo iam 44 pessoas. Só uma alma se salvou: a do comandante Edilberto Villar. Toda a equipa de futebol do Alianza Lima, de Bustamante a Tejadita, desapareceu no mar. Tal como a 27 de abril de 1993, quando um De Havilland da Zambian Air Force que se aproximava de Libreville, no Gabão, com destino a Dakar, no Senegal, deixou de surgir nos radares. A selecção da Zâmbia de futebol, campeã de África, foi vítima mortal do acidente. O seu capitão – Kalusha Bwalya, que chegou a jogar no PSV Eindhoven – ficara em casa. Não se contou entre os 30 mortos.
A lista dos acidentes aéreos que envolveram figuras do desporto é grande e inclui o desaparecimento de figuras como o campeão do mundo de boxe Marcel Cerdan – nos Açores –, e o piloto de fórmula 1 Graham Hill, que por sinal pilotava o avião. Quanto a equipas, há a acrescentar a do Green Cross, do Chile, em abril de 1961; a do The Strongest, da Bolívia, em setembro de 1969; ou a do Pakhtakor Tashkent, da antiga União Soviética, em agosto de 1979. Marcas indeléveis de um fenómeno que continua a assustar os homens que voam. Mesmo que se dê razão àqueles que dizem que o céu é o melhor lugar da Terra.