Enganaram-se os ambientalistas que se sentiam encorajados pelos últimos dias de encontros entre Donald Trump e figuras que defendem políticas de contenção das alterações climáticas. O presidente eleito dos Estados Unidos anunciou na noite de quarta-feira que Scott Pruitt será o próximo administrador da agência de proteção ambiental americana, levando ao cargo de alto-responsável pelas regulações climáticas um homem que não acredita por completo que os gases de estufa causam aquecimento e que passou os últimos dois anos a processar a própria agência que vai comandar, por estar alegadamente a interferir com a liberdade das empresas energéticas.
A equipa de transição de Trump defende a nomeação dizendo que Pruitt “tem um profundo conhecimento do impacto que as regulações ambientais têm tanto no ambiente como na economia”. Mas Pruitt não dá garantias de independências, conforme argumentava ontem o “New York Times” em editorial. O procurador-geral do Oklahoma – um dos estados norte-americanos em que há mais operações de fracking, uma técnica altamente prejudicial para o ambiente que consiste em quebrar rochas com reservas de combustível com água, areia e químicos – tem um longo historial de fazer campanha em nome de grandes empresas energéticas. O diário norte-americano descobriu há dois anos, aliás, que Pruitt enviava cartas elaboradas por gigantes energéticos – mas assinadas por ele – com queixas à Agência de Proteção Ambiental (que vai agora administrar), ao Ministério do Interior, a órgãos orçamentais e até ao próprio presidente Obama.
Em troca recebeu o apoio das grandes empresas energéticas – e poluentes – nas suas campanhas de reeleição para o cargo de procurador-geral de Oklahoma. Organizações e responsáveis pela proteção do clima responderam com perplexidade à nomeação de Pruitt, que argumenta que “a ciência não está totalmente desenvolvida” no que diz respeito à participação humana no fenómeno de aquecimento global. “Ter Scott Pruitt a comandar a agência de proteção ambiental é como pôr um incendiário a combater incêndios”, argumenta Michael Brune, o diretor do Club Sierra, uma das maiores organizações de proteção ambiental nos Estados Unidos. “Ele é um cético da ciência climática que, enquanto procurador-geral do estado do Oklahoma, conspirou regularmente com a indústria dos combustíveis fósseis para atacar as regulações da agência. Não é nada menos do que a saúde dos nossos filhos que está em causa”, disse, citado pelo “Guardian”.
Passo atrás A nomeação de Pruitt surge poucos dias depois de Donald Trump se ter encontrado no seu arranha-céus em Nova Iorque com Al Gore e de terem sido publicadas notícias indicando que a sua filha e conselheira, Ivanka, está a planear tornar-se numa figura pública dedicada à defesa da ação contra as alterações climáticas. Trump, aliás, anunciou a nomeação do seu futuro administrador da agência de proteção climática no mesmo dia em que se encontrou com Leonardo Di Caprio, ator e ativista ambiental, designado pelas Nações Unidas como mensageiro da paz com enfoque no clima.
Trump defende acabar com as contribuições americanas para as Nações Unidas destinadas ao combate às alterações climáticas, rasgar o recém-assinado Acordo de Paris – que compromete dezenas de países a cortar drasticamente as emissões de gases de estufa – e reduzir a dimensão da agência de proteção ambiental, que agora entrega a Pruitt, que faz parte de um coletivo de procuradores-gerais norte-americanos que tenta impedir a ação climática da administração de Obama desafiando-a em tribunal. Desmantelar algumas das regulações já lançadas não será fácil, mas Pruitt e Trump parecem ter caminho livre para enfraquecer, atrasar e desmantelar a agência.