São quase cinquenta os políticos ou ex-políticos referidos na delação premiada [um compromisso de colaboração, acordado entre o Ministério Público e o acusado, previsto na legislação brasileira e que tem como fim a obtenção de benefícios legais para ambas as partes] do antigo diretor de relações institucionais da Oderbrecht, Cláudio Melo Filho.
O depoimento ainda não foi homologado pelo Supremo Tribunal, mas uma fuga de informação permitiu o acesso dos meios de comunicação do Brasil às várias acusações que nele estão contidas.
Segundo Cláudio Filho, a empreiteira pagou mais de 80 milhões de reais (cerca de 23 milhões de euros) em subornos, a quase meia centena de dirigentes políticos, entre 2006 e 2014, particularmente através de financiamento partidário
A denúncia – integrada no âmbito da Operação Lava Jato – envolve políticos de diversos partidos, mas o PMDB é o mais prejudicado. Entre os nomes revelados pelo ex-diretor, que terão sido diretamente beneficiados pelo pagamento ilegal das quantias referidas, estão algumas das principais caras daquele partido, nomeadamente o atual chefe de Estado, Michel Temer, o presidente do Senado, Renan Calheiros ou antigo ministro e atual senador Romero Jucá.
O alegado envolvimento de Temer no esquema levou o líder dos Democratas no Senado, citado pelo “Estadão”, a pedir ao presidente para “ter a sensibilidade que não teve a presidente Dilma”. O partido de Ronaldo Caiado integra a base de apoio ao governo, pelo que o senador fez questão de esclarecer, nesta terça-feira, que não estava a defender a “renúncia” de Temer, mas apenas a apelar a uma “reflexão pessoal”.
Se o presidente negou “com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho”, através de uma nota de imprensa publicada no site oficial do Palácio do Planalto, Renan Calheiros, citado pelo site Carta Capital, acusou o Ministério Público de “fazer política” e, com isso, estar a “perder a condição de ser o fiscal da lei”.
A resposta do presidente do Senado surgiu um dia depois de ter sido acusado formalmente, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A denúncia foi apresentada ao Supremo Tribunal Federal na segunda-feira e nela é pedida a devolução de 1.6 milhões de reais ao Estado brasileiro o afastamento de Renan do cargo político que ocupa.