“Portátil” é uma peça de teatro de improviso, onde tudo começa com uma entrevista a um membro da plateia. Com base nas suas memórias, o elenco de atores, composto por Gregório Duvivier, Luís Lobianco, Gustavo Mirange e César Mourão, compõe uma história de vida com princípio, meio e fim, com a música de Andres Giraldo criada no momento.
Assim, cada cidade assiste a uma história completamente diferente que nunca mais se repetirá, mas sempre com o riso como fio condutor.
O que se pode esperar do espetáculo “Portátil”?
É uma surpresa inclusive para a gente. Estes espetáculos nunca são iguais. Cada espetáculo é radicalmente diferente. Elas dependem da história que é contada pela plateia. É a partir de aí que nós fazemos o espetáculo. Algumas são líricas e poéticas, outras mais cómicas. A gente encena a história da pessoa. Não somos nós que mandamos nem no conteúdo nem no género.
É uma espécie de jam session de jazz em que a pessoa dá o mote para o vosso improviso?
Ela conta a história da vida dele e a gente encena. Mas é o contrário dos improvisos. Mas a gente vai fazendo jogos à volta disso. Alguém chega e diz: “Quando eu era pequeno caiu em cima da minha cabeça uma jaca [fruto da árvore tropical jaqueira].” Então a gente vai encenar a infância dela e esse acontecimento. Em geral pegamos uma história banal de uma pessoa e vamos transformá-la em algo épico ou dramático.
Como encenaria a história de vida do Temer?
Ahahah, que história. Seria a história em companhia de muitos outros atores. Nem sei bem como começou, mas seria a história de um golpista que fez uma série de golpes. Seria muito interessante fazer isso, quem sabe se ele um dia vem à peça e dá para a gente fazer. Seria difícil é que a plateia tenha empatia por esse personagem.
E se encenasse a história do Fidel Castro?
A mesma coisa, também seria difícil ganhar a empatia da plateia. É impossível contar a história sem contar os horrores da Revolução Cubana. As figuras políticas em geral têm esse problema de falta de empatia.
Acha, portanto, que o Fidel é comparável ao Temer e se esgota nos horrores?
Nada comparável. Nada a ver. Mas ambas figuras políticas são comparáveis. O Castro tem imensas contradições. E o Temer também as tem. Ele está longe de ser um vilão completo e o Castro está longe de ser um herói completo. E isso é que é interessante nas pessoas, e a peça fala muito disso: como nós somos todos um monte de tensões e contradições.
Como é que o Porta dos Fundos tem sobrevivido a esta situação política?
O Porta dos Fundos, hoje, é algo muito saudável num país pouco saudável. Atualmente, no Brasil, a direita e a esquerda se odeiam e não comunicam. Pelo contrário, no Porta dos Fundos, todos temos posições políticas muito diferentes e damo-nos bem. Claro que a gente briga muito diariamente, mas ainda assim a gente conversa, o que não acontece no Brasil.
As pessoas no Brasil estão muito divididas?
Eu não sei como é em Portugal, mas no Brasil as coisas romperam. Não são só as pessoas da rua, os amigos, até as famílias estão rompidas. É uma dificuldade até para se reunirem neste Natal.
(Risos) Deve ser para escolher a cor do Pai Natal, se ele é vermelho ou de outra cor.
Houve uma rapariga agredida na rua porque o seu laço era vermelho. Existe um anticomunismo muito forte e do outro lado também existe muito ódio: para a esquerda, a direita é toda golpista e fascista. O país está todo cindido e a esquerda brasileira está querendo mudar-se para Portugal, que é a nossa última esperança no mundo (risos).
Vão ter a participação do ator português César Mourão.
Pois é, eu fiz com ele a “Comédia à la carte” e ele colaborou com o Porta dos Fundos. É um parceiro de longa data e é um sujeito que eu admiro muito: é muito versátil, é bom ator, mas também cantor. O nosso espetáculo é musical e ele preenche todos os objetivos. É um excelente improvisador, o que ajuda muito. Na verdade, ele é a cara do espetáculo. Ele vai fazer isso muito bem.
{relacionados}