Laura Ferreira dos Santos, fundadora do movimento Direito a Morrer com Dignidade, professora de Filosofia aposentada da Universidade do Minho, escritora e a mulher que trouxe a discussão da eutanásia para o país morreu na passada sexta-feira aos 57 anos. A impulsionadora da petição – que ultrapassou as oito mil assinaturas e que é discutida no início de 2017 no parlamento – morreu na sua casa, em Braga. Sofria de cancro há vários anos.
A notícia foi dada na página do Direito a Morrer com Dignidade, movimento que criou em novembro do ano passado com o médico nefrologista João Ribeiro dos Santos – e que morreu no início de setembro.
A luta de Laura pela despenalização da morte assistida começara há quinze anos, quando a mãe morreu de cancro no pâncreas em 2001: “A minha mãe morreu nove meses depois do diagnóstico, nos meus braços”, contou ao i há quase um ano. Foi aí que se interessou pela questão e começou a estudar o tema.
“É que nem toda a gente tem a sorte de morrer como o dr. Almeida Santos, ou como o meu irmão, que morreu repentinamente”, defendia. Depois da morte da mãe, Laura recebeu também um diagnóstico oncológico que se foi agravando com o passar dos anos, trazendo-lhe “dores insuportáveis”.
Durante a doença nunca parou de escrever nem de lutar pelo direito à eutanásia e ao suicídio assistido. Escreveu três livros sobre o tema: “Ajudas-me a Morrer?”, “Testamento Vital” e, mais recentemente, “A Morte Assistida e Outras Questões de Fim-de-Vida”.
“A professora Laura Ferreira dos Santos foi, em Portugal, pioneira da defesa da despenalização da eutanásia, dentro e fora da Universidade, tendo contribuído para a sua discussão de forma elevada, conhecedora, empenhada e convicta, quer na comunicação social, quer na sociedade, através de centenas de artigos de opinião”, lê-se na página do movimento Direito a Morrer com Dignidade.
Para a professora, a eutanásia era um tema transversal à política, à sociedade e à religião. “Há pessoas de direita e de esquerda, religiosas ou não, que acreditam que as pessoas devem ter a liberdade de escolher morrer, desde que estejam lúcidas e não estejam deprimidas”, disse.
Lutou para expressar a sua opinião – sempre frontal – até ao fim. Ainda no início de novembro, escreveu uma crónica no i intitulada “Os que morrem: a propósito de uma crónica do Pe. Anselmo Borges”. “Eu, como pessoa doente, bem sei o que dói sentir que os outros se afastam de nós, como se fôssemos pestiferados”, referiu na altura.