“Um ruído de disparos, pelo menos oito, ouviram-se na impoluta galeria de arte. Armou-se um pandemónio. As pessoas gritavam, escondiam-se atrás das colunas e debaixo das mesas, ou atiravam-se ao chão. Estava assustado, mas consegui proteger-me atrás de uma coluna e fazer o meu trabalho: tirar fotografias”, assim recorda o fotógrafo Burhan Ozbilici, citado nas páginas do “El País”, o momento do assassinato do embaixador russo na Turquia. Uma das suas fotografias foi capa da edição do i de ontem.
Quando o fotógrafo viu que um homem com um fato negro sacava uma pistola, pensou, para consigo, que era um ato teatral. Depois dos disparos, “que se sucederam rapidamente”, o fotógrafo reparou que estava um corpo estendido no chão a poucos metros dele: “Demorei alguns segundos a perceber o que se tinham passado e que havia um homem morto diante de mim”.
O assassino foi abatido a tiro pelas forças especiais turcas. A sua identidade foi conhecida horas depois: era um polícia de intervenção turco, chamado Mevlüt Mert Altintas. Na sequência do atentado, a polícia turca deteve seis pessoas, entre os quais, o pai, a mãe, a irmã e o companheiro de casa do autor do assassinato.
Nenhum grupo reclamou a autoria do atentado que teve lugar na Galeria de Arte de Ancara, numa exposição de fotografias de como os turcos viam a Rússia. O homem que matou o embaixador gritou durante o ataque: “Deus é grande”, em árabe, e depois em turco acrescentou: “Não esqueçam Alepo, não esqueçam a Síria”.
O ataque mostra um mundo cada vez mais violento e conturbado, em que ninguém está a salvo, nem os civis de Alepo, Mossul e Berlim, nem os embaixadores das grande potências. É preciso recuar a 1829 para haver outro embaixador russo assassinado.
Apesar disso, o efeito o atentado não colocará em causa a reaproximação entre Moscovo e Ancara. Os dois países que têm estado dos dois lados da barricada no conflito sírio, reúnem-se estes dias para articular posições. Nas chancelarias fala-se de um acordo “Alepo por Al Bab [cidade síria ocupada por milícias e militares turcos]”. A Turquia deixa de apoiar os rebeldes anti-Assad, e em troca a Rússia deixa cair os curdos sírios, e permite à Turquia criar uma zona tampão no norte da Síria.
A morte do embaixador russo só vem apressar o processo. Paradoxalmente, as maiores vítimas do assassinato, são para além do falecido diplomata, Washington e os escorraçados de há séculos: a população curda que se reparte por seis países.