“Não podemos permitir que a China viole o nosso país”, defendia o candidato presidencial Donald Trump, em maio, num comício, citado pelo NPR.org, criticando as táticas comerciais lideradas por Pequim que, de acordo com o magnata, contribuíam para o encerramento de empresas norte-americanas e para o aumento do desemprego no país, devido aos baixos custos de mão-de-obra e produção, comparados com o praticado nos EUA. A solução? Aumentar as taxas de importação dos produtos chineses, por exemplo.
Este posicionamento contra a China foi recorrente durante a campanha presidencial do candidato republicano e apesar de muita gente acreditar que o mesmo não passava de mais uma estratégia pensada apenas para agradar os eleitores – a China é o segundo maior parceiro comercial dos americanos, pelo que medidas de rutura com Pequim implicariam uma redução radical do fluxo de trocas entre os dois países –, a verdade é que Trump não parece abdicar de bater o pé ao gigante chinês.
Para tal, não precisou de procurar muito longe. É que o professor Peter Navarro, da universidade da Califórnia, o homem escolhido pelo presidente eleito para liderar o recém-criado conselho comercial da Casa Branca, já o aconselhava durante a campanha e pode muito bem ter sido o responsável pelos comentários mais ferozes de Trump contra Pequim. Navarro é um conhecido crítico da China, tendo publicado diversas obras nas quais ataca duramente a intrusão chinesa no mercado dos EUA. O livro “Death By China” (“Morte pela China”) foi inclusivamente adaptado para documentário e nele é pedido aos norte-americanos que “não comprem produtos fabricados na China”, de forma a “protegerem a América” e “as suas famílias”.
Num comunicado partilhado pela equipa de transição de Trump, vem referido que a missão de Navarro será “tornar a indústria norte-americana grande outra vez”, através do aconselhamento de “estratégias inovadoras” que ajudem a incluir os americanos desempregados no reforço do setor industrial.
Donald Trump já tinha causado dissabores em Pequim quando deu a entender que a aceitação da política “uma só China” – o posicionamento concebido pelo Partido Comunista Chinês e acolhido pela administração Carter, em 1979, que entende Taiwan como parte integrante do território da China – podia ser moeda de troca para um novo acordo comercial.