Não gosto particularmente do Natal. Não gosto da sofreguidão, da correria, do stress. Não gosto das saudades de quem já cá não está e que inconscientemente se agudizam nesta altura do ano. Não gosto da proximidade do final de mais um ano e da noção quase inevitável de que não fiz nem metade do que gostaria de ter feito. Não gosto da sensação de que temos de ser todos bonzinhos… só porque é Natal. Ainda assim não consigo ser indiferente a certas ações e histórias – na verdade também não seria noutras alturas do ano, mas… é Natal.
Encontrei uma destas histórias num outro jornal, o “Jornal de Notícias”, que contou a história de Armando Sousa, um homem de 50 anos, cuja filha de dois anos, no início de dezembro, foi retirada e entregue para adoção pelo Tribunal de Família do Porto, e as visitas do pai proibidas com vista a ir pondo fim aos laços paternais (a mãe desapareceu quando a criança era ainda bebé). Tudo isto porque o pai está no desemprego e vive num quarto de pensão. Ou antes, estava e vivia. É que, na sequência desta notícia, um professor catedrático que deseja preservar o seu anonimato, voluntariou-se para pagar a Armando Sousa 500 euros por mês, durante seis meses. Mas a generosidade não ficou por aqui: um outro homem disponibilizou gratuitamente um apartamento em Avintes e horas mais tarde Armando Sousa recebeu uma proposta de trabalho.
Desta forma, o homem de 50 anos passou a reunir as condições para contestar a decisão do coletivo de juízes da primeira instância. Mas antes disso, o único sonho de Armando Sousa era mesmo poder entregar à filha a prendinha que lhe conseguiu comprar. E dar-lhe um beijinho.
Acho que é isto aquilo que chamam de espírito de Natal. E deste Natal eu gosto. E muito. Um feliz Natal para todos!