Diz-se que o Natal é dos mais pequenos e haverá pouca coisa mais tradicional do que a carta ao Pai Natal. A tal em que fazem o balanço do ano, se se portaram bem ou nem por isso, e na sequência disto, argumentam sobre os presentes que desejam receber. Podem ser textos mais ou menos materialistas, mas o que as crianças que os escrevem sabem é que alguém – o Pai Natal para os mais crédulos, os pais para os que já não acreditam no senhor barbudo – os lerá e os presentes acabarão por aparecer. Mas não é assim para todos.
Foi a pensar nas “cartas de Natal que ficam esquecidas todos os anos” que a CASA – Centro de Apoio ao Sem-Abrigo, que trabalha com 140 famílias carenciadas e 400 sem-abrigo de cidades como Lisboa, Albufeira, Coimbra, Faro, Figueira da Foz, Funchal e Porto, organizou a campanha Natal dos Esquecidos.
Nos últimos dias, espalhadas pela cidade de Lisboa – como no Terreiro do Paço -, apareceram umas tradicionais meias de Natal, daquelas vermelhas e brancas que se penduram na lareira com as tais cartas ao Pai Natal. Só que estas meias são em tamanho extra-extra-extra-large e lá dentro estão cartas muito especiais: cerca de 70, escritas por sem-abrigo de Lisboa que a CASA ajuda. São todas reais, ainda que os nomes e localizações tenham sido alterados. Os pedidos mais comuns são roupas, telemóveis, rádio, bilhetes para o cinema, para jogos do Benfica ou do Sporting. Mas outros são bem mais complexos, e denunciam as situações em que vivem muitas destas pessoas: há quem peça trabalho, uma dentadura e houve mesmo quem pedisse uma viagem de volta ao país de origem, a Roménia. A ideia é que as pessoas, ao passarem por estas meias gigantes, se sintam curiosas e se aproximem, retirando uma carta e depois a “adotem” (para tal basta enviar um e-mail para nataldosesquecidos@gmail.com).
Até à data, a CASA já recebeu nas suas instalações cerca de 20 presentes, que já foram entregues, perante “reações fantásticas”, disse a organização ao B.I. Mas a campanha continua, mesmo para lá do dia de hoje e de amanhã. “Vamos continuar até conseguirmos ter todos os presentes”. Curiosamente os pedidos aparentemente mais difíceis de satisfazer, já o foram: “Uma clínica disponibilizou-se para arranjar uma dentadura e temos três pessoas dispostas a tratar da viagem para a Roménia, o que nos deixa mesmo muito felizes.”