Na base militar de Hmeymim, na Síria, era esperada, no âmbito das celebrações do Ano Novo, uma atuação inesquecível de um do mais queridos e afamados grupos musicais da Rússia. Afinal, não era todos os dias que se podia ouvir, ao vivo, o “Coro do Exército Vermelho” – um verdadeiro símbolo da União Soviética e um dos principais mensageiros, através do tempo, da História russa – e, muito menos, num país em guerra.
Em vez da música, porém, aos ouvidos dos soldados russos destacados naquela região do litoral sírio apenas chegaram as notícias da morte dos 64 membros do coro Alexandrov Ensemble que viajava a bordo do avião militar que caiu no mar Negro, na madrugada de domingo.
O grupo foi criado em 1928, pela mão do general Aleksandr Alexandrov, um antigo professor do Conservatório de Moscovo, e concebeu e deu a voz a algumas das mais emblemáticas e patrióticas canções russas e soviéticas. É o coro oficial do exército russo, desde essa altura, e foi uma importante ferramenta de apelo à união e à resistência, aquando da invasão nazi à URSS, durante a II Guerra Mundial.
Apesar dos seus longos 88 anos de existência – e de ter vivido, por exemplo, a implosão de um país e o nascimento de outro – o Alexandrov Ensemble foi capaz de se reinventar e, para além das mais de 2 mil canções originais, tem milhões de visualizações no YouTube, fruto de interpretações de artistas tão distintos como Lady Gaga ou Freddie Mercury.
Antes da morte trágica dos membros do coro no mar Negro, o conjunto era composto por 186 pessoas, entre cantores, bailarinos e músicos. Segundo a agência noticiosa TASS, o espetáculo preparado para os soldados russos em Hmeymim, apenas incluía um número coral, pelo que a orquestra e os dançarinos não viajaram para a Síria.
“O meu avô sempre disse: sem coro não há grupo. Metade dos nossos artistas ficaram em Moscovo, mas os melhores faleceram”, lamentou, citado pela RT, Evgeny Alexandrov, neto do fundador do “Coro do Exército Vermelho”.