Uma ponte pedonal fechada e 60 mil visitantes obrigados a encontrar um caminho alternativo para o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia, tal foi a enchente no dia da abertura do novo edifício que a Fundação EDP construiu junto à Central Tejo, em Lisboa, para um museu que cruza arquitetura, arte e tecnologia para criar um «novo espaço de debate, de descoberta, de pensamento crítico e de diálogo internacional». Obra de 20 milhões de euros desenhada pelo ateliê da arquiteta britânica Amanda Levete, cuja inauguração conseguiu ganhar a dimensão de um dos maiores acontecimentos do ano, no feriado de 5 de outubro, com todas as dúvidas que se levantaram depois sobre a utilidade de um edifício que tem como espaço de exposição principal uma galeria oval, reservada a exposições site-specific.
O edifício cuja inauguração parou Lisboa tem 38 mil metros quadrados de área, dos quais apenas 4 mil cobertos. E só isto diz-nos que o MAAT é bem mais do que um museu, é um novo edifício para a cidade. Numa espécie de «aquário sem peixes», descrevia ao Guardian, que acompanhou a inauguração, um arquiteto britânico que não se deixava identificar e que descrevia a entrada no museu como uma viagem em que se está sempre à espera de encontrar algo que nunca se encontra. Mas escrevia também o diário britânico sobre o novo museu de Lisboa, e logo no título do mesmo artigo, que era «o hotspot dos hotspots», inaugurado com «uma onda sinuosa».
A arquiteta afirmou que um edifício com estas caraterísticas – pensado como «contraponto» ao da Central Tejo, o antigo Museu da Eletricidade que passou a fazer parte do MAAT, num conceito de dois edifícios, um museu – não seria possível em Inglaterra. «Ainda bem que Lisboa tem uma atitude mais liberal em relação à gradação», afirmou. Aspeto que o presidente da Ordem dos Arquitetos, João Santa-Rita, destacou na altura ao SOL como um dos pontos fortes do novo edifício. Uma «cobertura, que estabelece uma continuidade da área pública criando uma espécie de varanda ou de terraço do tamanho do edifício todo», observou, acrescentando que o novo MAAT veio ajudar a resolver o problema da relação com o rio, oferecendo à cidade um novo terraço, lugar de contemplação. «Desse ponto de vista é conseguido. É uma solução que cria mais um acontecimento na frente rio», seguindo a mesma lógica de outras intervenções que têm sido feitas, pela autarquia e por privados, na frente Tejo. Caso da Ribeira das Naus ou da Fundação Champalimaud, por exemplo. Mas um dos grandes méritos deste novo edifício, acrescentou na altura, é a forma como o consegue sem voltar as costas à cidade. «Quem passa na avenida também se apercebe que de alguma forma se vira para a cidade, com a cobertura em degraus a descair e a convidar-nos».
A juntar às exposições com que inaugurou em outubro – Pynchon Park, de Dominique Gonzalez-Forester, na Sala Oval, até 9 de fevereiro, e The World of Charles and Ray Eames, que termina a 9 de janeiro – há por agora para ver no MAAT Walking Distance, de Rui Calçada Bastos, Misquoteros – A Selection of T-Shirt Fronts, de Eduardo Batarda, e Liquid Skin, de Apichatpong Weerasethakul e Joaquim Sapinho. O resto só o tempo dirá.