O ano de 2016 foi aquele que viu a Real Academia Sueca atribuir um prémio Nobel da Literatura a um músico. O anúncio de 13 de outubro, feito com uma semana de atraso, alegadamente por falta de consenso entre os membro do júri, deixou meio mundo surpreso com a escolha de Bob Dylan, um autor com uma obra composta por 37 álbuns de estúdio e seis livros editados.
O júri sublinhou o facto de Robert Allen Zimmerman, nome verdadeiro de Dylan, «ter criado uma nova expressão poética dentro da grande tradição americana da canção». Sara Danius, secretária permanente da Academia Sueca, apontou o autor como sendo um «grande misturador» de tradições que tem procurado sempre a reinvenção. O álbum Blonde on Blonde, de 1966, foi usado como «um exemplo do seu brilhante modo de rimar, juntar refrães e da sua genial forma de pensar».
A atribuição de um Nobel da Literatura nunca é consensual. A deste ano criou duas fações: a que, por um lado, defende que entregar o prémio a um artista que dedicou a sua vida a musicar poemas é perder uma oportunidade de premiar alguém que dedicou a vida a escrever livros; e a outra fação, a que defende que não é por ter melodias à volta que os poemas e enredos de Dylan são menores do que qualquer outra obra. «Dylan é o brilhante herdeiro da tradição dos bardos», elogiou o escritor britânico Salman Rushdie.
«Sou um fã do Dylan, mas isto é uma atribuição imbecil, que tresanda a nostalgia e que foi arrancado pelas próstatas senis de uns tolinhos hippies», disse o autor escocês Irvine Welsh. O americano Jason Pinter deixou uma ideia: «Se o Bob Dylan pode ganhar o Nobel da Literatura, então julgo que Stephen King dever ser eleito para o Rock’n’Roll Hall of Fame».
Bob Dylan não marcou presença na cerimónia de entrega do Nobel, a a 10 de dezembro, alegando ter «ter outros compromissos». Patti Smith cantou ‘A Hard’s Rain Gonna Fall’ e a embaixadora dos EUA em Estoclomo leu um discurso do laureado que valida as duas fações: «Nunca tive tempo para me perguntar: ‘Serão as minhas músicas literatura?’ É por isso que agradeço à Academia Sueca por ter tido tempo para fazer essa pergunta e, por último, por dar uma resposta tão maravilhosa».
E concluiu: «Se alguém me dissesse que tinha hipótese de ganhar o Prémio Nobel, pensaria que tinha a mesma probabilidade de ir à lua».