Donald J. Trump quase nem precisava de ter vencido as eleições presidenciais dos EUA para merecer a medalha de figura do ano, tal foi o impacto com que o seu nome invadiu as primeiras páginas dos jornais, as aberturas dos noticiários das principais televisões ou as conversas mais populares do Facebook e do Twitter, durante o ano que passou.
A candidatura do magnata do imobiliário e estrela de reality show ao mais alto cargo da política norte-americana pareceu uma piada, durante muito tempo, mas tornou-se realidade na manhã de 9 de novembro, o dia em que o mundo acordou com a cara de Trump escarrapachada em todo o lado. Tinha sido eleito presidente na noite anterior, derrotando Hillary Clinton, de forma surpreendente e contra todas as previsões, catalogada como a candidata “mais bem preparada de sempre”, e beneficiando de um sistema eleitoral que criticou duramente, pese os quase 3 milhões de votos de desvantagem para a democrata.
Goste-se ou despreze-se, “Trump tornou possível o impossível”, nas palavras de Marine Le Pen, não apenas pela vitória na eleição, mas principalmente pela forma como o seu discurso disruptivo, ofensivo e polémico, chegou aos ouvidos de tanta gente. Afinal, a América de Barack Obama também podia ser a América de Trump e o magnata foi, talvez, a primeira pessoa a acreditar realmente nisso.
A candidatura da representante máxima do establishment deu-lhe as armas necessárias para se assumir – tal como Obama, oito anos antes – como o paladino dos esquecidos e dos desprezados pelo sistema. Se as desigualdades económicas, a deslocalização de fábricas para fora dos EUA e o receio de terrorismo formaram a base do descontentamento popular, Trump apenas teve de identificar o inimigo: Washington, pois claro, e o “pântano” que necessitava de ser drenado. A partir daí, mais não fez o republicano que ser ele próprio, consciente de que quanto mais vezes a elite política norte-americana denunciasse as suas posições e comportamentos controversos, mais a sua candidatura de diferenciação ganhava corpo e apoio popular. Foi, então, desagradável e até imprudente, na sua missão de tornar a “América novamente grande”.
No final, alguns dos vícios apontados acabaram por lhe dar o tão desejado lugar na Casa Branca. E se os primeiros dias como presidente eleito deram a ideia de que o Trump-presidente iria ser mais contido que o Trump-candidato, os últimos meses parecem indicar precisamente o contrário. O magnata juntou à sua volta um autêntico exército de homens alheios ao establishment e continuou a fazer do Twitter a sua principal arma de arremesso. Em poucos meses conseguiu, através daquela rede social, desvalorizar empresas cotadas em bolsa, ofender Pequim, criticar meios de comunicação e descredibilizar os serviços secretos do país. O circo Trump enterrou estacas em 2016 e promete um espetáculo de arromba para os próximos quatro anos.