Eleições,Brexit e Rússia
A tômbola que pode fazer implodir a UE
Holanda, França e Alemanha vão a votos no que podem ser mais pregos para a urna da União Europeia. Tudo isso no ano em que se começam a definir os contornos da saída do Reino Unido da UE. Um processo que todos preveem que será duro. Bruxelas quererá enviar um sinal a todos os países que podem ambicionar desconectar da União e Londres vai retaliar, como já está a fazer, sobre os trabalhadores dos Estados-membros que vivem no Reino Unido. Do ponto de vista eleitoral, os perigos mais imediatos para a manutenção da União Europeia vêm da França: já em abril se saberá se Marine Le Pen ganha as presidenciais. No caso de uma vitória da candidata da extrema-direita, será muito complicada a sobrevivência da Europa como a conhecemos. Isto tudo num cenário em que entra o rumo novo que os EUA vão dar à sua política no continente europeu. A primeira pedra de toque vão ser as relações com a Rússia, se o novo Presidente acaba com as sanções a Moscovo e aceita a anexação da Crimeia. Isto agravado com o anunciado desinvestimento na NATO, pode levar os países do leste da Europa a reequacionarem a sua política e arranjarem acordos com o Kremlin que garantam a sua independência, mais mitigada, perante o império russo.
Ambiente
O Planeta Trumpé mais quente
Os Acordos de Paris podem ser uma das primeiras vítimas da presidência Donald Trump. A Administração escolhida – desde as pastas do Ambiente, Energia e até o secretário de Estado – demonstra que há uma vontade política de acabar com as medidas de combate ao aquecimento global. Este Executivo de Trump tem uma firme ligação aos negócios das energias fósseis e aparentemente pretende atuar em áreas em que existem conflitos de interesses privados dos seus governantes. Já na campanha eleitoral, o milionário tinha declarado que o aquecimento global não existia e não passava de de uma invenção chinesa para colocar em causa a economia dos EUA. A sua equipa afina toda pelo mesmo diapasão:
«O [aquecimento global] é inverificável na natureza e não é objetivamente medido»,garante Scott Pruitt, o homem que o Presidente escolheu para a Agência de Proteção Ambiental, cuja principal missão é combater o aquecimento global. «Uma teoria científica ainda não provada», declara o seu secretário da Energia, Rick Perry. Sobre o consenso científico acerca desta bomba relógio ecológica, um dos responsáveis da equipa de transição do novo Presidente não podia ser mais claro: «Já houve um consenso científico dominante que garantia que a Terra era plana», ironizou este responsável. A comparação feita entre os padres medievais e os cientistas não pode ignorar as diferenças substanciais: os cientistas foram queimados na fogueira por dizer que a Terra não era plana. A verdade é que este consenso científico é grande e já tem anos: quando a revista Science , em 2004, verificou os 928 principais artigos científicos publicados sobre o clima: não encontrou um que não admitisse o aquecimento global. Provavelmente o único elemento da Administração que sabe bem do fenómeno é o secretário de Estado, Rex Tillerson, ex-CEO da ExxonMobil. Há muito que os 18.000 cientistas da empresa trabalham sobre cenários que preveem o aquecimento global. Os primeiros estudos sobre esta evolução, feitos por empregados da empresa, datam da década de 70. Mas como dizia Keynes: «A longo prazo estamos todos mortos» e os dividendos pagam-se anualmente.
Médio oriente
Alguns rastilhos para uma bomba gigante
A eleição de Donald Trump marcou o final do ano e vai ser um elemento, pelo menos, decisivo nos próximos anos. As afirmações de que Putin é o grande triunfador de 2016, devido também a ter contribuído para a grande mudança nos EUA, são duvidosas. Vladimir Putin pode ter feito o que podia para isso – com alguma ironia, até porque os norte-americanos passaram a vida a intrometer-se nas eleições em outros países –, mas ele nunca conseguirá prever os resultados do seu gesto. Se na Europa a contabilidade pode vir a ser favorável ao Kremlin, há outras regiões em que o resultado final pode ser mais incontrolável. No Médio Oriente, Trump poderá apoiar os esforços para consolidar Bashar al-Assada, mas há outros intervenientes na região que podem rebentar tudo. Trump pretende dar carta branca a Israel, isso significa esmagar a Palestina, mas também poder bombardear as instalações nucleares iranianas. Acontece que Teerão é o maior e mais poderoso aliado do Kremlin na região. Vai ser difícil Moscovo não ter conflitos com Washington nessa matéria.
Questão nodal
Conflito entre China e EUA
Outro dos pontos que pode fazer o mundo voltar a uma dinâmica de conflito é a vontade de Donald Trump eleger a China como adversário principal. O fazer depender o reconhecimento internacional que só há uma China da possibilidade de Pequim alterar a sua política económica para favorecer os interesses dos EUA é uma guerra com fim difícil de prever. Os EUA são a maior potência militar do planeta, mas tanto a China como a Rússia têm a capacidade de destruir muitas vezes a Terra. Um conflito militar é uma guerra sem vitória para ninguém. Por um lado, um conflito económico pode não ser tão fácil de vencer por parte dos EUA. A política como a economia têm o horror ao vácuo. O abandono da Europa por parte de Washington pode levar a um maior investimento de Pequim nos países do velho continente, algo que já acontece em Portugal. Por outro lado, o quase monopólio do dólar como moeda de transações internacionais e reserva de valor está neste momento a ser colocado em causa pelos chineses, que não só têm em títulos grande parte da dívida norte-americana, como estão a apoiar países africanos com muito dinheiro e investimentos, e estão a fazê-lo na sua própria moeda. A partir do momento que muitos países do mundo aceitem isso, a moeda chinesa, yuan renminbi, torna-se reserva de valor de facto e concorrente ao dólar.
Efemérides
Revoluções e aparições para mostrar como é
«A revolução vai estar no ar em 2017. Não é só o centenário da tomada de poder dos bolcheviques na Rússia, é também os 150 anos da publicação do primeiro volume do Capital de Karl Marx, os 50 da morte de Che Guevara (…) Mas também os 500 anos da data em que Lutero afixou as suas 95 teses», escreve o editor da Economist. A isto tem de se acrescentar os 100 anos das aparições de Fátima. 2017 é um ano de incertezas em que tudo é possível, mesmo do ponto de vista da sua genealogia.