2017 vai ser o ano de Trump como presidente dos Estados Unidos da América. Vai ser o ano em que o Brexit será posto em marcha e em que a União Europeia perderá um importante Estado Membro. Pode ser o ano da denúncia dos Acordos de Paris sobre Alterações Climáticas pelos EUA, o ano em que começará a ser construído mais um muro (entre os EUA e o México) e o ano em que Israel deixará de pagar as quotas obrigatórias à Organização das Nações Unidas.
2017 vai ser ano de eleições na Alemanha, França, Holanda e Itália – onde temos a direita populista a preparar foguetes e garrafas de champanhe na esperança de que a onda de 2016 os empurre para o poder nos seus países. 2017 vai ser o ano em que o presidente Duterte prosseguirá a sua luta contra o narcotráfico e o consumo de droga através do recurso a execuções sumárias no seu país, as Filipinas. 2017 vai continuar a presenciar o conflito na Síria e números novamente recordes de refugiados a entrar pela Europa. Será o ano em que na Gâmbia o atual presidente Jammeh se perpetuará no poder, apesar de ter perdido as eleições. Será o ano em que Kabila, na Republica Democrática do Congo, se manterá também no poder continuando a recusar a realização de eleições. Será o ano em que na China continuaremos a assistir a limitações cada vez maiores das liberdades de expressão e opinião.
Em resumo: 2017 poderá ser o ano em que continuaremos a avançar a largos passos para um abominável mundo novo.
Ou não.
2017 poderá antes ser o ano em que haverá uma reação positiva e contra a corrente aos maus prenúncios de 2016.
Poderá ser o ano em que os Estados Membros da ONU aproveitem o facto de termos um novo Secretário-Geral com provas dadas em matéria de diplomacia para o apoiarem e para fazerem com que a promessa de um mundo melhor se torne realidade – permitindo que ele promova a reforma da organização e que consiga mostrar resultados positivos na construção da paz, no alcance de maior e melhor desenvolvimento sustentável e realização de direitos humanos.
2017 vai ser já um ano de maior importância e participação de mulheres em lugares de topo da ONU, mas esta tendência poderá ser acompanhada por um aumento de poder e participação de mulheres em toda a Organização, mas também aos níveis nacional e regional. 2017 poderá ser o ano em que consigamos construir a paz na Síria. Poderá também ser o ano em que encontremos uma solução para o conflito Israelo-Árabe. O ano em que observemos um recrudescimento da importância dos direitos humanos e a utilização dos direitos humanos como guia na tomada de decisões por entidades públicas, mas também pelas pessoas no momento em que votam.
2017 poderá favorecer os nacionalismos exacerbados, ou pelo contrário, poderá ser um ano de vitórias do multilateralismo, dos direitos humanos, da paz e do desenvolvimento.
Para que isso aconteça cada um de nós tem um papel fundamental a desempenhar – somos nós, os cidadãos anónimos, que elegemos os políticos que ficarão à frente dos destinos dos nossos países, somos nós que respondemos a sondagens dando indicação de que somos ou não a favor de mais muros ou do acolhimento de refugiados, somos nós que optamos por energias e produtos sustentáveis ou não!
Espero que 2017 seja o ano em que acordemos de uma certa letargia e de um “laissez-faire, laissez-passer”, para que tomemos as rédeas dos nossos destinos e do destino do planeta.
Presidente da Parceria da ONU Sanitation and Water for All, antiga Relatora Especial da ONU para direitos humanos