Desde que me lembro, a palavra crise tomou-nos o discurso e tem justificado as principais políticas que ao longo dos últimos anos têm sido tomadas. Desde a crise financeira à tão apregoada crise de valores, o país tem vivido anestesiado e a reboque dos paliativos que têm procurado reparar o estado anémico a que chegámos. Olhando para o país de abril parece claro que sucumbimos à euforia das décadas que se seguiram, deslumbrados pelos progressos assinaláveis que Portugal conheceu desde então, mas incapazes de reconhecer que a liberdade por que tantos lutaram tem sido gradualmente posta em causa.
Corolário maior do estado a que chegámos tem sido o galopante afastamento entre cidadãos e classe política. Veja-se a abstenção que só pode fazer corar de vergonha os agentes políticos. Para muitos aqueles que elegemos deixaram de ser aqueles que nos representam. Haverá quem não veja com grande preocupação os sinais que nos chegam, esperando que a efemeridade de quase tudo o que envolve a política não seja também no descontentamento exceção. Porém, é evidente que a desconfiança existe e que não é apenas em Portugal que se verifica esta perigosa ameaça à Democracia conforme a conhecemos. Tomemos em conta os exemplos recentes do Brexit e das eleições americanas.
As causas são várias. Começando nos inúmeros maus exemplos, os casos de corrupção, o facto de os temas da agenda política estarem longe de corresponder àquelas que são as preocupações das pessoas, sem esquecer a incapacidade da linguagem utilizada ser sequer compreendida por aqueles que são os destinatários da mensagem, sendo o “politiquês” a língua oficial do regime.
Se olharmos para a perceção que os jovens têm da política então o cenário é ainda mais desolador. O estudo recente encomendado pela Presidência da República revela que os jovens não se interessam pela política nem pelos partidos e estão insatisfeitos com o funcionamento da Democracia. A isto não será alheio o facto de as novas gerações se sentirem esquecidas por quem tem a responsabilidade de governar o país. É incompreensível a cedência às corporações e às clientelas eleitorais cujos interesses não são muitas vezes coincidentes com o interesse do país.
Às portas de 2017 seria tempo de para além de ouvirmos “falar”, vezes sem conta, da geração mais qualificada de sempre, ver da parte de quem tem a responsabilidade de conduzir os destinos do país contribuir para o regresso de muitos dos que já emigraram, travando a fuga dos que resistem por cá, não lhes sonegando a oportunidade de terem um país que seja, de facto e também, para os jovens.
Secretária-geral da JSD