A dignidade é a medida de todo o desenvolvimento. Viver com dignidade significa viver livre de medo e ao abrigo da necessidade, paz e segurança, direitos humanos.
E é este o grande desafio de 2017: fazer com que a retórica que embeleza as grandes declarações internacionais e os discursos políticos, tanta vez meramente laudatórios, passe do papel para a realidade.
E todos os olhares vão ter às Nações Unidas e ao seu novel Secretário Geral, o português António Guterres.
As Nações Unidas são o repositório da legitimidade internacional e são a organização que mais fez pela construção de um mundo melhor para todo/as. Com menos meios do que aqueles de que necessita para levar a cabo a sua missão – e não me refiro apenas aos meios financeiros, mas também à vontade e apoio políticos – a ONU tem sido a grande obreira dessa ideia de mundo em que a dignidade humana é o alfa e o ómega da comunidade internacional.
Hammarskjold (o segundo SG da ONU) dizia que as Nações Unidas não foram criadas para nos levar ao paraíso, mas sim para nos salvar do inferno. E é muito perto do inferno que estão os milhões de pessoas deslocadas à força, os que passam fome, os que veem os seus direitos humanos negados, as mulheres e raparigas e meninas que são vítimas de violência.
Em 2017 os desafios serão maiores do que em qualquer outro momento da história da ONU; não apenas porque os objetivos são os mais ambiciosos de sempre, mas também porque os fatores exógenos são os mais adversos de que há memória: vontades políticas reduzidas a um mínimo denominador comum em matérias de paz e segurança, com os estados a preferirem conquistar posições estratégicas no grande tabuleiro geopolítico através de guerras por procuração, sem recorrer ao Conselho de Segurança; encolhidas a menos do que zero quando se trata de assumir um compromisso humanista e uma cosmovisão liberal no acolhimento e integração com dignidade do/as refugiado/as e migrantes; obliteradas no que diz respeito às agendas de direitos humanos, à cabeça com a agenda da igualdade de género, da eliminação das violências contra as mulheres e raparigas e da saúde sexual e reprodutiva e direitos conexos.
Um ano em que os jovens devem ser trazidos para o centro da tomada de decisão, e empoderados através da educação, formação, emprego e saúde, para que possam ser atores e beneficiários do desenvolvimento, para que possam ser alavancas de mudança.
2017 será o ano em que a ONU deverá prestar um apoio vital aos Estados Membros para que estes implementem a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, sem deixar ninguém para trás – nas palavras de António Guterres. E isso significa uma revolução paradigmática, no sentido de nada poder ficar como dantes e de termos que usar novos conceitos e novos referentes. A minha proposta para 2017 é de que, em tudo, usemos a dignidade como medida. Só e tão apenas isto.
Professora Universitária
