Tentar realizar um prognóstico para 2017 implica necessariamente que tenhamos entendido a mensagem de 2016. Certamente que os pontos mais críticos que ameaçam a estabilidade mundial irão merecer profundas reflexões nestas páginas: o conflito na Síria, a crise dos refugiados, os desenvolvimentos do Brexit, a imprevisível política externa da nova presidência americana, as eleições na França, na Alemanha e nos Países Baixos, e, claro, não esquecer que a crise do euro ainda não saiu da “check-list” de problemas superados.
Mas existe um fator que perversamente une todos estes dilemas internacionais e nacionais. A grande herança de 2016 que transita para o ano de 2017 será a prática da pós-verdade.
Os resultados eleitorais que favorecem populistas são fruto também do fomento do sistema intuitivo e emocional da população. O antídoto ao populismo não está somente nos partidos e nos políticos – reside em cada cidadão e no seu círculo de influência social.
Será um ano em que as batalhas se travam também através da propagação de “fake news”. Onde os cidadãos terão uma responsabilidade acrescida em fazer uma leitura mais criteriosa das notícias que nos chegam através de todos os meios, mas especialmente por via das redes sociais. Dou um exemplo concreto. Recentemente muitos se insurgiram na base de uma notícia relativa a uma escola alemã na Turquia que teria proibido os professores de falarem sobre o Natal. Uma rápida busca na internet demonstrou, contudo, que a direção da escola tinha veementemente desmentido essa notícia.
Entre a notícia e o seu contraditório, devia ganhar a dúvida. Mas depois de espalhado, o sangue quente nas redes sociais dificilmente desaparece. E assim cresce a desconfiança emocional e intuitiva entre os povos.
Neste contexto, é fundamental que Portugal trabalhe para preservar o seu bem-maior: a ausência de uma direita neofascista e de xenofobias eleitoralmente expressivas. Um bem cada vez mais escasso numa Europa fragmentada nas vésperas de 2017. Não bastam pancadinhas mútuas nas costas, a sublinhar o quão pacífico é o nosso modelo de integração, por exemplo. Trabalhar respostas e cenários futuros é essencial para preservar o bom acolhimento português, bem como incorporar os anseios da população portuguesa, de forma a evitar os piores cenários que são a realidade quotidiana noutros Estados-membros.
A provocação da pós-verdade será constante em 2017 e penetrará todos os meios sociais: que não nos falte o sangue frio para que a racionalidade possa imperar.
Deputada do PSD