Um Sonho e uma Esperança em 2017, segundo Patrícia Reis

Quem tem medo do ano que vem? O mundo. E haverá esperança? Para uns parece que sim, a outros nem por isso. O i convidou dez personalidades portuguesas para escreverem sobre 2017.  Da política interna à arena internacional, da diplomacia à literatura, conhecem o país e o lugar dele no mundo com perspetivas distinta mas que…

Sonhei que 2017 era um ano feliz, um ano sem Donald Trump e sem Marine Le Penn no Conselho de Segurança da ONU; com um Brexit consciente e sustentável, já que a democracia o exige, mas aliado à Europa; com a União Europeia capaz de se reinventar em todos os aspetos e inteligentemente (eu não disse que o sonho era realista);

Com uma Justiça em Portugal a funcionar de forma rápida e competente para terminar com especulações e difamações; com mais festejo e reconhecimento porque é bom celebrar o positivo e não teimar na crítica, no queixume, na parvoeira de perdermos tempo quando, afinal, vamos morrer e não sabemos quando; um ano em que a Academia Sueca entrega um Prémio Nobel a um/a escritor/a sem terem de me explicar musicalmente a pertinência da atribuição; com uma oposição ao governo – a tal de geringonça -, uma oposição forte para o obrigar a ser melhor; uma oposição séria, sem demagogia ou vontade de poleiro;  um governo sem merdas ou rabos de palha, das pessoas para as pessoas;

Uma visita papal sem disparates em bloco ou quadrado; uma televisão pública com mais ficção nacional, dando trabalho aos artistas portugueses; um ano em que as mulheres não são preteridas nas televisões, rádios, jornais, concursos, festivais, festas, prémios e afins; com mais consciência ecológica porque, francamente, o planeta está a chegar a ponto de não retorno e só não vê quem não quer; um ano sem disparates nas redes sociais (isso é que era!), com comentários construtivos e pluralistas; uma escola adaptada aos tempos, revendo-se o sistema de ensino, dando mais espaço aos alunos a partir do secundário para escolherem o seu curriculum; sem imagens terríveis da Síria ou outro país por não existir nada para reportar, por não haver guerra, e a não existência da guerra, não sendo sinónimo de paz, ajudava muito ao estado do mundo;

Um Portugal com uma política cultural digna desse nome (bem sei que o governo é de esquerda e é suposto a Cultura beneficiar alguma coisa, mas eu ainda não vi nada, ou estou enganada?); a possibilidade de não existir abandono de animais e outras barbaridades; a extinção das notícias cuja essência é “homem matou mulher” e, por fim, a existência de harmonia e amor entre as pessoas que se amam, porque o afecto precisa de ser exercitado. Eu sei que era só um sonho, que sou ingénua e utópica, mas tenho dois filhos. Preciso de ter esperança.

Escritora