A aventura começa em Assunção (Paraguai), e termina em Buenos Aires (Argentina) dia 14. A ligação entre as duas capitais tem ainda passagem pela Bolívia, onde os 491 concorrentes encontrarão as primeiras grandes dificuldades da 39ª edição do Dakar.
O desafio é tremendo. Ao longo de 12 dias e 9000 quilómetros, os pilotos vão encontrar pistas técnicas e rápidas, dunas a perder de vista, zonas trialeiras, etapas com 500 quilómetros de extensão (os mais rápidos vão terminar já ao anoitecer, imagine-se os outros…), e vão estar seis dias a competir a mais de 3500 m de altitude.
Na categoria de automóveis, a Peugeot aposta forte no 3008 DKR, e numa equipa de pilotos fortíssima, com Stéphane Peterhansel – venceu 12 vezes o Dakar! – e nos campeões de ralis Carlos Sainz e Sébastien Loeb.
A oposição (se houver) virá dos Mini All4 Racing e dos Toyota Hilux Evo. Os protótipos das três marcas são os mesmos do ano passado, só que melhorados para terem maior rendimento na alta montanha.
Portugueses À falta de pilotos nacionais nos automóveis, a presença portuguesa faz-se em qualidade e quantidade nas motos. Dez pilotos estão presentes à partida, embora com objectivos bem diferenciados.
Paulo Gonçalves marca presença pela 11ª vez no Dakar. É o “motard” português com melhor palmarés na prova, a que junta o título de Campeão do Mundo de Ralis Todo-o-Terreno, em 2013. Este ano integra novamente a equipa HRC (Honda Racing Corporation) e, depois do segundo lugar obtido, em 2015, sabe que tem condições para vencer. “O Dakar é a prova maior, aquela para a qual trabalho o ano inteiro. Não é apenas uma corrida, é uma fantástica aventura”.
O piloto explicou-nos como foi feita a preparação da moto CRF 450 Rally para esta maratona. “A preparação começa logo que termina a edição anterior, com o desenvolvimento de novas soluções. Não foram feitas grandes alterações, mas melhorámos determinados aspectos para aumentar as ‘performances’ e a fiabilidade”.
Em Junho “Os testes em estrada começaram em junho do ano. Depois, disputámos algumas provas, que apresentavam semelhanças com o Dakar, para validar as novas soluções. Fizemos um trabalho muito bom, e isso deixa-me confiante. As outras marcas também se prepararam, por isso penso que o Dakar vai ser muito aberto e competitivo”, disse Paulo Gonçalves, que vai ter em Hélder Rodrigues (Yamaha) um adversário difícil.
A par da KTM, crónica vencedora do Dakar, a Honda está na primeira linha dos favoritos, e quer repetir o triunfo alcançado na longínqua edição de 1989. “O ambiente é bastante bom, a equipa está coesa e há grande expectativa. Estivemos muito perto de vencer em anos anteriores, e não temos dúvidas que a nossa hora chegará. Em 2015 terminei em segundo, o ano passado liderei na primeira semana e estive na luta pela vitória, este ano o objectivo é ganhar. É legítimo ter este pensamento”.
Para uma maratona como o Dakar, existe uma estratégia de equipa, que poderá ajudar o piloto português. “Numa prova de duas semanas, a estratégia é importantíssima. A equipa sabe quais são os pilotos que poderão lutar pela vitória, depois há outros que terão o papel de ajudar. O meu objectivo é lutar pela vitória nas etapas e à geral. Se ficar impedido de atingir esse objectivo, estarei disponível para ajudar os meus colegas. Essa é mentalidade na Honda”.
Fala Gonçalves Apesar de estar integrado numa equipa oficial, Paulo Gonçalves espera maiores dificuldades este ano. “O Dakar é sempre difícil, estamos permanentemente sob pressão. A corrida regressa um pouco ao conceito das primeiras edições, onde a navegação desempenhava papel importante. Este ano é preciso estar muito atento e cometer o menor número de erros possíveis para não falhar os ‘way points’ de controlo. Temos que passar a 300 m de distância, mas isso não é nada fácil, sobretudo se a corrida for disputada a ritmo alucinante como foi o ano passado”.
Em termos de percurso, as dificuldades estão bem identificadas: “Há zonas novas na Bolívia, muito técnicas e disputadas a grande altitude, entre os 3500 m e os 4900m, que vão causar problemas. Várias etapas são muito longas, com mais de 500 quilómetros, e bastante duras, com temperaturas superiores a 40 graus”, frisou o piloto da Honda.
Altitude Para além das dificuldades naturais do percurso, a altitude é outro problema para máquinas, que perdem rendimento, e pilotos, que sentem grandes dificuldades, como revelou Paulo Gonçalves. “Na alta montanha, com o ar rarefeito, respira-se de uma maneira diferente, e fazer esforço físico torna-se mais complicado. Sentimos dores de cabeça horríveis, e somos mais lentos a pensar e a reagir em cima da moto. O desgaste físico é muito grande, e nem sempre conseguimos recuperar o suficiente para o dia seguinte. Vai ser muito duro para nós, para os mecânicos e para as motos”.
Conhecedor das condições extremas em que se disputa a prova, Paulo Gonçalves considera a preparação física fundamental para obter um bom resultado. “Um piloto tem que trabalhar ao longo do ano para estar em boa forma física e psicológica. O meu programa foi idêntico ao de anos anteriores. Para além dos testes com a moto, faço treinos bidiários de ginásio e bicicleta, cinco vezes por semana”.