2016 foi (mesmo) o ano da geringonça

Mais de 25 mil portugueses elegeram “geringonça” como palavra do ano de 2016

geringonça

nome feminino

1. construção pouco sólida e que se escangalha facilmente; caranguejola

2. aparelho ou máquina considerada complicada; engenhoca

3. coisa consertada que funciona a custo

4. figurado sociedade ou empresa de estrutura complexa e pouco credível

5. figurado qualquer coisa ou ideia engendrada de improviso e que funciona com dificuldade

6. calão; gíria

É desta forma que é definida a palavra “geringonça” no “Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora”. O mesmo vocábulo que acaba de ser eleito Palavra do Ano de 2016, comprovando que a geringonça – enquanto expressão usada para designar a coligação parlamentar que apoia o atual governo – entrou mesmo de rompante na vida dos portugueses. A palavra foi usada pela primeira vez por Vasco Pulido Valente, numa crónica no jornal “Público”, em outubro de 2015, na qual escreveu: “A cada erro, a cada fracasso, haverá uma tempestade geral e [António] Costa não tem, fora da sua geringonça, em quem se apoiar.” Pouco depois, a 10 de novembro, num debate parlamentar, Paulo Portas, à data ainda líder do CDS-PP, dava força à expressão, referindo-se ao acordo entre PS/Bloco de Esquerda/PCP e Partido Ecologista Os Verdes da seguinte forma: “O acordo de esquerda não é bem um governo, é uma geringonça. O que a vossa geringonça nos oferece é uma bebedeira de medidas. As bebedeiras têm um só problema: chama-se ressaca.” A partir daqui, o uso da expressão “geringonça” tornou-se comum no dia a dia dos portugueses.

Isto ficou, de resto, claro, com a eleição agora como palavra do ano de 2016. Foram mais de 25 mil pessoas que participaram nesta que foi a oitava edição desta eleição online, organizada pela Porto Editora – e que foi também a edição mais participada –, tendo o vocábulo vencedor somado 35% dos votos. Logo a seguir ficaram “campeão”, com 29%, e “brexit”, com 8%, mas do top 10 constam ainda “parentalidade” (6%), “presidente” (6%), “turismo” (4%), “racismo” (4%), “humanista” (4%), “empoderamento” (3%) e “microcefalia” (1%).

De acordo com a organização, esta lista de palavras finalistas resulta de um “trabalho permanente de observação e acompanhamento da realidade da língua portuguesa, levado a cabo através da análise de frequência e distribuição de uso das palavras e do relevo que elas alcançam, tanto nos meios de comunicação e redes sociais como no registo de consultas online e mobile dos dicionários da Porto Editora, tendo em consideração também as sugestões dos portugueses através do site www.palavradoano.pt.”

“Geringonça” sucede, como palavra do ano, a “refugiado” (2015), “corrupção” (2014), “bombeiro” (2013), “entroikado” (2012), “austeridade” (2011), “vuvuzela” (2010) e “esmiuçar” (2009) – uma lista que deixa claro como o resultado desta eleição acaba por permitir fazer um retrato do país e das preocupações e pesquisas dos portugueses.

Durante este mês, no dia 18, serão ainda conhecidas, pela primeira vez, as palavras do ano em Angola e Moçambique. Uma iniciativa organizada também pela Porto Editora, com o apoio do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua e que tem como grande objetivo “sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam, acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e construindo a própria vida.”