Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo polaco, morreu esta segunda-feira, aos 91 anos, em Leeds, na Inglaterra, onde vivia há anos, segundo informou o jornal do seu país de origem “Gazeta Wyborzca”.
Bauman era considerado um dos pensadores mais importantes do séc. xx e trabalhou até ao fim da sua vida. Os seus trabalhos versaram o Holocausto, o consumismo e a globalização, e era conhecido sobre as suas teses de que viveríamos numa “modernidade líquida” em que todos os laços são pouco estáveis em todos os aspetos da vida: trabalho, amor e outras áreas. Publicou mais de 50 obras ao longo da vida, muitas das quais estão editadas em Portugal, sendo as mais conhecidas da sua fase recente “Modernidade Líquida” e “Amor Líquido”. O último livro do autor editado em Portugal é uma entrevista conduzida por Carlo Bordoni com o título de “Estado da Crise”.
O sociólogo nasceu na cidade de Poznan, na Polónia, no dia 19 de novembro de 1925. Filho de uma família judia, conseguiu estudar apesar das medidas repressivas adotadas pelo governo nacionalista polaco contra os judeus. Quando tinha 14 anos, a família fugiu do nazismo para a União Soviética. Aos 18 anos alistou-se no exército polaco organizado pelos soviéticos, onde chegou ao posto de major. Antes desse período tirou dois cursos superiores: “Lembro-me que antes de me juntar ao exército polaco [em 1943] e voltar para o meu país natal, fiz dois anos de curso universitário de Física por correspondência. Lembro-me de me sentir apavorado e esmagado por todos os mistérios do universo”, confessou ele. Depois de voltar para a Polónia, em 1946, recomeçou os seus estudos. Tinha começado por estudar sociologia mas foi forçado a mudar para filosofia, porque o ensino da sociologia foi extinto por razões ideológicas. Tornou-se professor da Universidade de Varsóvia. Anos mais tarde foi destituído do ensino e expulso do Partido Comunista, e teve todas as suas obras censuradas. “Fui perseguido pelos serviços secretos durante 15 anos. Fui espiado. Tive escutas na minha casa. As minhas chamadas eram intercetadas. Fui expulso do exército e, no final, correram-me da universidade e não me deixavam publicar livros”, testemunhou o filósofo. Em 1968 deixou o país. Renunciou à sua nacionalidade e emigrou para Telavive, tendo saído depois de Israel para prosseguir a carreira na Universidade de Leeds, em Inglaterra.
Bauman foi criador do conceito de “modernidade líquida” – uma etapa na qual tudo o que era sólido na modernidade se liquidificou e em que os “nossos acordos são temporários, passageiros, válidos apenas até nova mudança”.
As teorias de Bauman exerceram grande influência nos movimentos antiglobalização. Os seus ensaios alcançaram fama internacional nos anos 80 com títulos como “Modernidade e Holocausto” (1989), em que define o extermínio dos judeus pelos nazis como um fenómeno relacionado com o desenvolvimento da modernidade.
Entre as suas obras mais significativas, destacam-se “Modernidade Líquida” (2000), onde afirmava que o capitalismo globalizado estava a acabar com a solidez da sociedade industrial. No livro “Bauman sobre Bauman”, o filósofo confessa os ideais e intenções da sua juventude: “Quando eu era jovem, isto é, há séculos, fiquei muito impressionado com Jean-Paul Sartre, que dizia que precisávamos de criar o project de vie. Temos de selecionar um projeto de vida, temos de prosseguir passo a passo de forma consistente, ano após ano, chegando cada vez mais próximo desse ideal.” Morreu com 91 anos e foi autor de uma grande caminhada.