Começam hoje a disputar-se os quartos–de-final da Taça de Portugal, essa prova democrática que leva muitas vezes ao Jamor (parecem caladas as vozes que não admitiam que o Estádio Nacional fosse o palco privilegiado da final) clubes fugidos à ditadura dos Três Grandes, mesmo quando eram Quatro Grandes, entrando o Belenenses nessa contabilidade, sobretudo após o título conquistado em 1946. Passaram-se os anos. O velho Belém foi caindo a pouco e pouco do pedestal dos gigantes, outros quiseram entretanto ocupar o seu lugar, sem muita convicção, sublinhemos, de tal ordem que ficámos com um lugar vazio e difícil de preencher. Três Grandes, assentemos. E desses três, já só dois estão aqui, preparados para reclamar mais uma vitória na competição, embora o Sporting até esteja na senda de recusar quatro e o Benfica não se dê ao trabalho de somar três. Eu explico!
Regista a federação portuguesa que os encarnados somam 28 vitórias na Taça de Portugal, e os leões 20. Ora, dessas 28 e dessas 20, respetivamente, três e quatro foram ainda no tempo em que a prova se chamava Campeonato de Portugal. Reclamam os homens que hoje governam Alvalade que os campeonatos de Portugal devem ser contabilizados como campeonatos nacionais, mesmo que haja uma resolução da FPF datada de 1939 a qualificar as novas nomenclaturas das provas e que esses campeonatos de Portugal se tenham disputado simultaneamente com campeonatos da liga. Enfim, cada um reclama o que quer e lhe apetece, vivemos num país livre; só não dá muito jeito que, como diz o povinho, da Torre de Vale de Todos a Chão de Meninos. passando por Matacães, nos comam as papas da cabeça. Não venha aí agora a ideia peregrina de atribuirmos um título de campeão ao Carcavelinhos e seis ao Belenenses, que assim voltaria a ser grande como os claustros dos Jerónimos. Valha o bom senso. Mas vamos lá concluir: curioso, igualmente, o facto de o Benfica inscrever no seu palmarés apenas 25 taças de Portugal ganhas, deitando para trás das costas do olvido essa prova magnífica que começou a ser disputada em 1921/22 pondo, nessa época, frente a frente apenas dois clubes, FC Porto e Sporting – como se vê, é difícil chamar alguma vez campeonato a essa espécie de geringonça de antanho.
Por agora Voltemos ao presente. Em liça estão ainda cinco vencedores da Taça de Portugal: Académica, Leixões, Benfica, Sporting e Vitória de Guimarães. O Leixões – primeira equipa portuguesa a participar na extinta Taça dos Vencedores de Taças – cometeu a proeza de, em 1961, ir vencer o FC Porto na final tão convenientemente marcada para as Antas: 2-0, golos de Oliveirinha e António Silva. Amanhã visita a Luz com a aura de condenado, mas bem sabemos que o futebol pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança, com licença de Rómulo de Carvalho, dito Gedeão. E, não precisamos de recuar muito no tempo para trazermos à colação o Benfica-Boavista do passado sábado, pois não? Por isso, estamos conversados em relação a jogos ganhos de véspera e nas conversas de café.
O mesmo se dirá do Desportivo de Chaves-Sporting. Abro mais um parêntesis: os três clubes destes oito que não venceram a Taça contam com presenças na final. Parêntesis fechado, fica a certeza de que, se há jogo que o Sporting não pode perder, é este. E o seguinte também. Enfim, não pode perder para não perder de vez o pé no mar encapelado das confusões internas que surgem a público quase dia sim dia sim. Fora da Europa, fora da Taça da Liga, fora da batalha atual pelo primeiro lugar do campeonato (veremos como será o futuro imediato), não há mais foras para somar. Ou há, mas seria um golpe profundíssimo no orgulho leonino e no projeto de Bruno de Carvalho/Jorge Jesus. Por isso, logo à noite, a partir das 20h15, teremos um jogo de nervos. Depois se perceberá se a maior tranquilidade dos transmontanos jogará a seu favor.
Sobram duas eliminatórias mais renhidas: Estoril-Académica e Sporting da Covilhã-Vitória de Guimarães. Os canarinhos passam por momentos tristonhos; os minhotos têm, com certeza, ambições grandes. Aquilo que está confirmado é que o vencedor da primeira compita calhará nas meias-finais com o que sair do Benfica-Leixões. Para o outro, sobra o triunfante do Chaves-Sporting. Mas recorde-se: a partir daí, já em duas mãos. Há muito caminho pela frente até que seja verão e haja Jamor…