Anos mais tarde, em 1983, na sequência da morte do dramaturgo, Gore Vidal escreveu: «Não há nenhuma atriz no mundo que não confirme que Tennesse criou as melhores personagens femininas do teatro moderno. É do conhecimento comum que ele gostava de ter sexo com homens (verdade) e odiava mulheres (falso). O resultado disto é que as suas personagens femininas são criaturas maliciosas.»
Ainda assim – ou talvez justamente por isto -, poucas serão de facto as atrizes que nunca sonharam com Blanche, Maggie, Amanda, Serafina, Alexandra, Hannah ou até Maxine, estas duas protagonistas femininas de A Noite da Iguana, peça que pode ser vista no palco do Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, até 5 de fevereiro.
Aquela que é a última peça do ciclo que Jorge Silva Melo e os Artistas Unidos dedicaram a Tennesse Williams, depois de Gata em Telhado de Zinco Quente (2014), Doce Pássaro da Juventude (2015) e Jardim Zoológico de Vidro (2016), conta com Nuno Lopes, Joana Bárcia e Maria João Luís nos principais papéis.
É a esta última que cabe a personagem de Maxine Faulk, dona da Pensão Costa Verde, no México, cenário para esta história. Uma mulher, como descreveu a atriz ao SOL, «encantadora, resolvida, solar, que quer viver e estar bem na vida, sem fazer juízos de valor.» Uma viúva recente, que optou por não deixar a depressão e a tristeza tomarem conta da sua vida, mas antes viver em pleno. Uma personagem que não estava na lista de desejos da atriz, pela simples razão que esta não existe. «Prefiro deixar-me surpreender-me pelos convites que vou recebendo, como foi o caso de ‘Stabat Mater’, do Antonio Tarantino, uma peça que nunca imaginei que viesse a ser o sucesso que foi ou que tivesse o impacto que teve em mim.»
Para Maria João Luís – que imediatamente antes desta peça tinha revisitado Mário Cesariny em O Jovem Mágico – esta não é a primeira experiência com as palavras de Tennessee Williams. A atriz de 53 anos foi Alexandra Del Lago, em Doce Pássaro da Juventude (2015), um atriz na decadência, com medo de envelhecer. A diferença é que, nest’A Noite da Iguana, há, mais do que o Tennessee Williams que vê as mulhares como «criaturas maliciosas», o que quer antes salvar todas as suas personagens. Até as femininas. Da mesma forma que, Maria João Luís se salva um pouco sempre que sobe ao palco e empresta a sua vida aos outros. «Sou uma workaholic, o que quero é trabalhar, trabalhar, trabalhar.»