Depois de uma semana difícil, mas superada com aparente sucesso [ver texto ao lado], Theresa May deslocou-se aos EUA para se encontrar com Donald Trump, naquela que foi a primeira visita de um líder estrangeiro à renovada Casa Branca.
Trump nunca escondeu o seu regozijo pelo resultado do referendo no Reino Unido, que ditou a intenção dos britânicos de saírem da União Europeia, pelo que recebeu com especial deleite a primeira-ministra em Washington. Ainda em campanha eleitoral, chegou a dizer que a sua futura vitória iria ser «um Brexit multiplicado por dez» e a amizade travada com Nigel Farage, um dos principais rostos da aversão britânica à União, é apenas mais um sinal de confirmação dessa felicidade pela decisão de um povo que, à semelhança do americano, Trump acredita que provou querer ver-se livre do establishment.
Foi precisamente neste clima de aparente compreensão mútua – Carles Castelló-Catchot, do think tank norte-americano Brent Scowcroft Center – Atlantic Council descreveu ao El País o encontro de sexta-feira como «uma reunião de outsiders sem um objetivo claro» – que o Presidente dos EUA recebeu May na Casa Oval.
Mas enquanto Trump viu o encontro como uma oportunidade de reforço da special relationship entre EUA e Reino Unido, amparada na tal suposta característica comum de rebeldia contra o sistema, a primeira-ministra do Reino Unido encarou-o como uma forma de colocar o pragmatismo acima da ‘ideologia’. Dito por outras palavras, May cruzou o Altântico para conseguir as bases para um acordo comercial que a faça esquecer as consequências económicas drásticas do abandono anunciado do Mercado Único Europeu, sem que isso a arraste para o furacão de polémica emanado pelo magnata.
No discurso no encontro anual do Partido Republicano, em Filadélfia, na quinta-feira, a primeira-ministra apelou à necessidade de aproveitamento das oportunidades trazidas pela «nova época», para que os «velhos amigos» possam liderar o mundo «de novo juntos». Ainda assim, fez questão de se desmarcar de uma das posições mais polémicas de Trump, ao relembrar que tanto a ONU como a NATO são «o pilar na defesa do Ocidente» e que a liderança dos EUA é «central».