O abandono do Reino Unido da União Europeia está aí ao virar da esquina e Theresa May tem a perfeita consciência de que os britânicos necessitarão de todos os amigos que conseguirem arranjar para atenuar as consequências económicas malignas da saída do Mercado Único Europeu. Mesmo que esses amigos se encontrem no clube dos líderes políticos que mais controvérsias têm levantado nos últimos tempos. Depois da visita de dois dias aos EUA, a primeira-ministra britânica viajou para Ancara, para se encontrar com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ignorando as críticas internas, quer da oposição, quer de alguns meios de comunicação, e fechou um acordo de cooperação militar, no sábado.
Tal como no encontro com Donald Trump, May reuniu-se com o líder turco – em cujas mãos se encontra praticamente todo o poder político do país, fruto da mistura explosiva entre as medidas repressivas enquadradas no estado de emergência decretado para lidar com a tentativa de golpe falhado, em julho do ano passado, e as mais recentes alterações constitucionais que abrem caminho para o desdobramento do autoritarismo – movida pelo lema do pragmatismo.
Foi nesse registo que saiu da capital turca com um acordo de cooperação militar – relacionado com um programa de desenvolvimento de aviões de combate turcos – e com as bases lançadas para a criação de um grupo de trabalho de preparação de um compromisso comercial bilateral, após a saída do Reino Unido da União. E foi no mesmo registo que se refugiou em respostas ‘diplomáticas’, quando desafiada a comentar a deriva autoritária da liderança de Ergodan ou a ordem executiva de Trump que fecha a porta dos EUA a cidadãos oriundos de determinados países muçulmanos.
“Os Estados Unidos são responsáveis pela sua própria política de refugiados”, referiu May, citada pela BBC, numa conferência de imprensa em Ancara, chutando para canto a questão. Um (não) posicionamento que foi repetido por um porta-voz do governo, também em declarações àquela cadeia de televisão britânica, mas reforçado com a garantia de que o Reino Unido não tomará medidas semelhantes: “A política de imigração dos Estados Unidos é uma matéria exclusiva no governo dos Estados Unidos. Nós não concordamos com este tipo de abordagem e não será uma estratégia que iremos seguir”.
Quanto à onda de repressão liderada por Erdogan, May limitou-se a dizer que é importante que a Turquia “mantenha a democracia através da manutenção do Estado de Direito e da preservação das suas obrigações internacionais, em matéria de direitos humanos, como o governo se comprometeu a fazer”.