Há precisamente uma semana, um pouco por todos os EUA – e pelo resto do mundo – teve lugar a Marcha das Mulheres. Só em Washington, epicentro desta iniciativa, estima-se que tenham estado na rua 500 mil pessoas, sobretudo mulheres, mas não só. Entre os manifestantes dezenas de figuras públicas, algumas das quais fizeram questão de subir ao palco para discursarem. Madonna, Michael Moore, Angela Davis, Gloria Steinem, America Ferrera ou Scarlett Johansson, são apenas algumas das personalidades que não recearam demonstrar o descontentamento em relação à tomada de posse de Donald Trump. Mas entre todos os que discursaram, foi a intervenção de Ashley Judd a mais marcante.
«I am a nasty woman», mas não tão «nasty» (má, suja, grosseira, obscena, perversa) como «o homem que parece tomar banho em pó de Cheetos», ouve-se logo no arranque do poema, numa clara referência ao tom de pele alaranjado de Trump. São cerca de seis minutos, recheados de palavras duras e raciocínios perturbadores, que incluem a comparação de Trump a Hitler, que concluem que as mulheres não são tão «nasty» como «o racismo, a fraude, os conflitos de interesses, a homofobia, o abuso sexual, a transfobia, a supremacia branca, a misoginia, a ignorância.» E que «our pussies ain’t for grabbin’».
A atriz de 48 anos recitou o poema ‘Nasty Woman’, da autoria de Nina Donovan, uma jovem poetisa de 19 anos, do Tennessee. Até então uma perfeita desconhecida. Estudante de sociologia no Columbia State Community College, Nina Donovan trabalha em part-time na Dunkin’ Donuts e dedica os seus tempos livres a organizar workshops de poesia, através da Southern Word, um coletivo de jovens poetas do Tennessee.
De resto, foi em dezembro, justamente numa noite organizada pela Southern Word, que Nina Donovan apresentou o poema ‘Nasty Woman’. Na plateia estava a conterrânea Ashley Judd, que automaticamente lhe pediu autorização para o recitar emWashington.
O poema foi escrito na própria noite do debate em que Donald Trump chamou Hillary Clinton de «nasty woman». «Agarrei imediatamente no meu telemóvel e comecei a tirar notas. Não conseguia parar de escrever, de tanto que estava inflamada. Na altura não tive essa consciência, mas foi o mais longo poema que alguma vez escrevi. Mais tarde pesquisei os temas que queria incluir, pois queria que fosse uma mistura de factos e opiniões. Esta eleição foi a primeira vez que votei e quis manter-me ligada ao que se passada», disse à Vice.
Foi à distância, a partir da marcha de Nashville, que a jovem Nina Donovan assistiu a Ashley Judd declamar as palavras que criou. «Foi como um sonho.»