Alfredo Barroso. “Às vezes parece que é ele o primeiro-ministro”

Chefe da Casa Civil do Presidente Soares acha que Marcelo se excede ao “ir a tudo e mais alguma coisa”

Foi chefe da Casa Civil do Presidente Mário Soares. Este Presidente fala quase todos os dias e está constantemente na rua. Acha que Marcelo Rebelo de Sousa exagera? 

Reconheço que Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República representa um tal contraste com Cavaco que uma pessoa sente-se mais agradada e menos tensa. Ele tem esse dom. Acho que ele se excede ao ir a tudo e mais alguma coisa. Vai a todas e isso pode acabar por se virar contra ele, a prazo, porque o desgasta. Mas tem contribuído bastante para a descrispação da vida política portuguesa porque, de facto, durante os mandatos do profz. Cavaco Silva, a crispação era de tal ordem que se tornou insuportável. Claro que ele ainda tem de ser posto à prova, se porventura vier a ocorrer uma crise política. Normalmente, é nessas circunstâncias mais difíceis que se avalia a capacidade de um Presidente.

Marcelo fala demais?

Ele tem uma tendência grande para comentar. Foi comentador político e não é de um momento para o outro que uma pessoa se transforma.

Há quem pense que, por vezes, o Presidente parece um primeiro-ministro.

Sim. Quando me referia aos comentários, dava isso como subentendido. Por vezes pronuncia-se sobre certas matérias de tal maneira que parece que ele é que é o primeiro-ministro e que ele é que decide as políticas do governo. Isso é criticável, mas até agora não tem suscitado nenhum conflito com o governo.

Julga que o Presidente está excessivamente próximo do governo?

Também diziam, no primeiro mandato de Mário Soares, que o Presidente Soares e o primeiro-ministro Cavaco constituíam um par político muito feliz. O Presidente Marcelo apostou que esta solução era viável e a verdade é que os resultados obtidos por este governo têm sido muito positivos. 

Pode tirar o tapete ao governo?

Pode acontecer se o PSD mudar de atitude e de direção, se sair Passos Coelho e se for para lá alguém que se entenda bem com o Presidente. Mas não basta isso. É preciso haver uma crise política e esta maioria apostou que iria durar uma legislatura.