Benfica. Hélder Costa leva Seixal aos 150 milhões

Extremo luso foi contratado em definitivo pelo Wolves, que acionou a cláusula de 15 milhões, aumentando para números astronómicos os valores já encaixados pelos encarnados com vendas de pérolas da formação

À grande época no Championship – 29 jogos e nove golos no segundo escalão do futebol inglês – faltava juntar uma exibição perfeita frente a um grande do país de Sua Majestade. Feito: depois de maravilhar Inglaterra com uma sumptuosa performance em Anfield no fim de semana, atirando o Liverpool para fora da Taça junto da sua Kop, Hélder Costa convenceu o Wolves a avançar em definitivo para a sua contratação. O valor não foi divulgado, nem pelos ingleses nem pelo Benfica, mas já havia sido definido no início da temporada, quando as águias cederam o internacional sub-21 português: 15 milhões de euros – a bitola habitual para as pérolas da formação que nunca mereceram grandes oportunidades na primeira equipa.

Hélder Costa assinou por quatro anos e meio com o Wolves, mas toda a Inglaterra sabe que isto se tratou apenas de um pro-forma: no fim da temporada, o jovem luso acabará por dar o salto para um clube da Premier League, e por uma quantia bastante superior. Se dúvidas há, vejam-se os elogios que mereceu de Steven Gerrard. “Mostrou que tem nível de Premier League”, assumiu a lenda do futebol inglês e do Liverpool, logo após ter visto os seus Reds estraçalhados em casa pela exibição do menino nascido em Angola mas moldado no Seixal.

e tudo mendes levou

Com a transferência agora anunciada, Hélder Costa passou a integrar uma seleta lista de craques oriundos do Caixa Futebol Campus, a academia de formação encarnada criada em 2006 e que muitos, muitos milhões tem rendido ao Benfica nos últimos anos: já passa dos 150!

A saga começou em 2014/15, com três vendas de rajada: André Gomes e João Cancelo para o Valência e Bernardo Silva para o Mónaco. As transferências causaram polémica pelo timing mas, sobretudo, pelos valores envolvidos – cada um foi vendido por 15 milhões de euros – e por terem Jorge Mendes como peça fulcral nas negociações: eram, na altura (e continuam a ser), bem conhecidas as ligações do super-empresário português com os dois clubes compradores.

A verdade é que os três atletas acabaram por confirmar o seu real valor quer no futebol espanhol, quer no futebol francês – isto, depois de raramente terem tido oportunidades na equipa principal dos encarnados. André Gomes até foi o mais utilizado: 41 jogos e quatro golos em duas temporadas (2012/13 e 2013/14) sob o comando de Jorge Jesus. No Valência, somou 76 partidas e oito golos nas duas temporadas seguintes, o que lhe valeu uma transferência milionária para o Barcelona este ano, após se ter sagrado campeão europeu por Portugal: 35 milhões de euros – mais 20 variáveis –, dos quais cinco voaram para os cofres… do Benfica.

Cancelo foi menos feliz nos AA: apenas dois jogos em 2013/14. Em dois anos e meio de Valência – onde foi lançado, tal como André Gomes, por… Nuno Espírito Santo, hoje treinador do FC Porto –, o jovem nascido no Barreiro leva 72 jogos e três golos. Entretanto, estreou-se na Seleção Nacional e fez história, com três golos nos três primeiros jogos pela equipa das Quinas.

Já Bernardo Silva é daqueles exemplos incompreensíveis. Desde há muitos anos apontado como um dos maiores talentos forjados no Seixal – Chalana chamava-lhe o “Messizinho” –, mereceu míseros 31 minutos na equipa principal em 2013/14, divididos por três jogos. Dois anos e meio depois, soma 122 jogos e 25 golos pelo Mónaco, é indiscutível na Seleção – só falhou o Europeu por lesão – e visto como um dos próximos elementos a agitar o mercado futebolístico mundial. Isto tudo aos 22 anos.

sucesso… e nem tanto

Em 2015/16 chegou a vez de Ivan Cavaleiro. Depois de uma época onde mereceu algumas oportunidades de Jorge Jesus (19 jogos e um golo em 2013/14), o extremo/avançado foi cedido ao Corunha e acabou por convencer o Mónaco, que por ele pagou… 15 milhões de euros, pois claro. Em França, fez 22 jogos e três golos, números insuficientes para fazer história no Principado. Mudou-se este ano para o Wolves – tal como Hélder Costa – por oito milhões: soma 22 jogos e quatro golos, mas sofreu agora uma lesão grave, que o vai afastar algum tempo dos relvados.

No fim da temporada, ainda antes do epílogo perfeito que foi o Europeu, o maior negócio de todos: Renato Sanches no Bayern Munique. Um autêntico meteoro no Benfica e no futebol português, Renato Sanches começou a época nos… juniores do Benfica, passou pela equipa B e estreou-se na formação principal pouco tempo depois de fazer 18 anos. Pela mão de Rui Vitória, atuou em 35 jogos e marcou dois golos: números suficientes para convencer o crónico campeão alemão, que por ele aceitou dispender no imediato 35 milhões de euros, mas que podem chegar a uns incríveis 80, dependendo das performances do jogador durante os cinco anos de contrato.

Já no início da época agora em curso, aconteceu também a desvinculação em definitivo de Nélson Oliveira. Durante anos apontado como o futuro do Benfica e da Seleção nacional, particularmente devido à escassez de opções no futebol português para a posição de ponta de lança, o avançado nunca conseguiu confirmar em pleno as potencialidades que se lhe reconheciam. Após empréstimos ao Rio Ave e Paços de Ferreira, cumpriu uma época completa no Benfica, apontando três golos em 22 jogos. No final dessa temporada 2011/12, foi chamado por Paulo Bento a representar a Seleção no Europeu da Ucrânia e Polónia, somando quatro jogos. A partir daí, todavia, iniciou uma espiral de empréstimos quase todos pouco sucedidos (Corunha, Rennes, Swansea e Nottingham Forest), voltando a ser utilizado no Benfica apenas em duas ocasiões na primeira metade de 2014/15. No início desta temporada, encerrou definitivamente a ligação às águias, assinando até 2020 com o Norwich, do segundo escalão inglês. Os valores do negócio não foram divulgados por nenhuma das partes, mas o especializado site Transfermarkt avalia a transferência em 5,85 milhões de euros.

E eis que chegamos a este mercado de janeiro, com a transferência relâmpago de Gonçalo Guedes para o Paris Saint-Germain. Dos cofres dos franceses para a Luz voaram 30 milhões de euros imediatos, estando mais sete sujeitos a variáveis no desempenho do ex-camisola 20 das águias em Paris. De todos os casos aqui enumerados, Guedes foi o que mais jogos fez pela equipa principal do Benfica: 68 (e 11 golos). Estreou-se ainda com 17 anos em 2014/15, lançado por Jorge Jesus, mas foi com Rui Vitória que passou a ser aposta fixa no plantel e a maior parte das vezes, no onze. Já se estreou no PSG, onde lhe prevêem largo futuro.