Brexit. May prometeu analisar propostas mas Sturgeon não está convencida

Escócia e País de Gales apresentaram planos para permanecerem no mercado único, num encontro com a primeira-ministra em Cardiff

No lançamento da primeira reunião entre Theresa May e os representantes dos governos da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte, após a decisão do Supremo Tribunal do Reino Unido que decretou a não obrigatoriedade de o executivo britânico consultar os parlamentos regionais no processo de abandono da União Europeia, Nicola Sturgeon defendia que as probabilidades de um posicionamento conjunto com o governo eram bastante baixas e exigia que as propostas apresentadas pelo seu partido fossem “levadas a sério” por May.

À saída do encontro, que teve lugar em Cardiff, na segunda-feira, o estado de espírito da líder do Partido Nacional Escocês (SNP) e primeira-ministra da Escócia não era, porém, muito diferente. Embora tenha saudado o compromisso do governo britânico em querer manter as chamadas administrações descentralizadas informadas sobre os passos que serão tomados rumo ao Brexit, Sturgeon afirmou que “ainda está para ser convencida” de que as propostas dos escoceses vão ser efetivamente tidas em conta. “As próximas semanas não irão resolver todas as questões em volta do Brexit, mas serão bastante importantes para que eu possa perceber se a voz da Escócia vai ser ouvida durante este processo”, afirmou, citada pela BBC, após a reunião, voltando a deixar no ar a ameaça de um novo referendo independentista.

Entre as propostas apresentadas a May, o destaque vai para as estratégias delineadas, tanto pelos escoceses como pelos galeses, que lhes permitam o acesso pleno ao Mercado Único Europeu, uma reivindicação que choca de frente contra um dos principais componentes do plano que o governo definiu para a saída do Reino Unido da União Europeia: o abandono total do mercado e negociação de um novo acordo que permita “o melhor acesso possível”. 

Se a líder escocesa se mostra cética em relação ao que Downing Street vai fazer com as propostas e continua firme em bater o pé ao Brexit – sob o argumento de que, na Escócia, o referendo resultou numa vitória clara do “remain” na UE -, o primeiro-ministro do País de Gales, Carwyn Jones, acredita que as diferenças entre o executivo e a sua administração “não são irreconciliáveis”. Ainda assim, defende que os governos das administrações descentralizadas devem “fazer parte do processo [e] não serem apenas ouvidas”.

Decisão do tribunal é suprema

Após o encontro de Cardiff, Theresa May prometeu “intensificar” o trabalho do executivo no que toca à análise das propostas dos governos do País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, uma promessa que não confirma nem desmente se os pedidos de permanência no mercado único dos dois primeiros vão ser verdadeiramente tidos em conta.

Esta abertura para ouvir as nações britânicas não deve ser confundida, no entanto, com uma eventual promoção daqueles governos a uma posição de participação nas discussões em Westminster ou em Bruxelas sobre a saída. Ainda antes da reunião, May fez questão de esclarecer que a decisão do tribunal retira quaisquer obrigações do executivo nesse sentido e, segundo o “Independent”, essa foi mesmo uma das principais mensagens que quis levar ao encontro. “A decisão do Supremo Tribunal tornou claro que as relações com a UE são da competência exclusiva do governo e parlamento britânicos”, lembrou a primeira-ministra. “Não nos podemos esquecer que isso significa que os deputados – que representam todas as comunidades do Reino Unido – estarão plenamente envolvidos na aprovação do artigo 50 pelo parlamento”, acrescentou.