Cessação de vigência ou propostas de alteração ao diploma do governo que estabelece a municipalização da Carris? Do lado do PCP, ainda nada está decidido. Os restantes partidos, à exceção do Bloco, vão esperar para ver o que pretendem os comunistas.
A apreciação parlamentar do decreto-lei será agendada na próxima conferência de líderes, marcada para amanhã. O partido de Jerónimo de Sousa informou ontem que irá tomar uma decisão até ao dia do debate parlamentar, embora o diploma entre em vigor esta quarta-feira, 1 de fevereiro. “Pode haver sempre soluções para manter a Carris no Setor Empresarial do Estado e corresponder aos objetivos que definimos. Há sempre soluções, desde que haja interesse e vontade”, afirmou João Frazão, membro da comissão política do comité central.
PS vai aguardar debate A atitude dos comunistas não surpreendeu o PS.
Os socialistas dizem ter reagido com “tranquilidade” ao anúncio do PCP, não só por acreditarem que a passagem da gestão da Carris para a Câmara de Lisboa é “a medida mais racional e mais acertada para a qualidade do serviço e até no plano da gestão financeira da empresa”, mas também porque os comunistas já tinham levantado essa hipótese no debate parlamentar do dia 18 de janeiro.
O deputado João Paulo Correia recorda que há 14 meses, quando a esquerda se “uniu” para “travar a passagem da gestão da empresa para privados”, o PCP já “desdenhava este modelo”, mas sublinha que se trata de uma medida “que faz parte do programa do governo”.
Ainda assim, o PS vai aguardar até ao agendamento do debate para se pronunciar. “Nós não sabemos se o PCP propõe a cessação da vigência ou se propõe alterar o decreto-lei em alguns capítulos. Como também existe sempre a possibilidade de outros grupos parlamentares apresentarem propostas de alteração cuja votação se superiorize à própria proposta do PCP”, afirmou João Paulo Correia ao i, acrescentando que o partido está “aberto ao diálogo”.
Direita vai esperar Tanto o PSD como o CDS também preferem esperar.
“Vamos aguardar e ver qual é a proposta que [o PCP] põe em cima da mesa. Ainda é cedo para tomar qualquer posição”, disse o deputado social-democrata António Costa Silva ao i, recordando a posição histórica do partido: a concessão dos transportes públicos.
“O PCP tem de dizer ao que vem”, afirmou Hélder Amaral ao i. O deputado centrista adiantou que o partido ainda está “a avaliar” a questão e assume “dúvidas” relativamente à “legitimidade” do modelo da municipalização. “Estamos perante uma encenação para que tudo fique na mesma ou estamos perante uma intenção real e legítima do PCP de querer as mesmas respostas que nós queremos? Consoante a resposta, temos de tomar uma decisão: uma cessação de vigência ou uma alteração do modelo”, sublinhou o centrista ao i.
Nuno Magalhães reforçou a posição de Hélder Amaral, acrescentando que o “PCP está a aprender com António Costa”. “Isto é muito poucochinho”, ressalvou o líder parlamentar do CDS. “Quando o PCP decidir o que vai fazer, e quando se deixar de brincadeiras ou de teatro, nós decidiremos o que fazer com o teatro do PCP.”
BE votará contra revogação
Se o PCP optar por uma cessação de vigência, uma coisa é certa: não terá o apoio do Bloco de Esquerda, adiantou fonte do partido de Catarina Martins. Para os bloquistas, regressar ao modelo anterior não resolve os problemas da Carris, mas o partido não põe de parte apresentar alterações ao diploma do governo.
O BE ainda está a estudar qual a melhor formulação, mas deverá ir no sentido de garantir uma gestão intermunicipal da empresa, seja através da reconstituição da Autoridade Metropolitana de Transportes – extinta pelo anterior governo – ou da criação de uma autoridade intermunicipal, uma vez que a Carris opera não só em Lisboa mas em diversos concelhos – preocupação também expressa pelo PCP.