Mas ontem Dunham revelou ao Hollywood Reporter que a adaptação da série para o cinema estava mesmo a ser considerada. Aliás, mais do que considerada, ia acontecer. «Vamos fazer o filme», disse, fazendo um paralelismo com a série-filme Sexo e a Cidade», também da HBO. Este não é, no entanto, um projeto imediato. «Quero dar tempo e espaço às personagens para que, no filme, as possamos encontrar em fases diferentes daquelas em que vão ficar no final da série.» No passado, Dunham tinha afirmado que queria avançar para o filme numa altura em que as suas personagens, Hannah, Marnie, Jessa e Shoshanna, atualmente à beira dos 30, chegassem aos 40. Mas se tivermos em conta a voracidade deste mercado, será se imaginar que estes dez anos sejam encurtados. Mas mesmo que assim seja, é certo que todas as personagens – e sobretudo a autora – estarão numa fase diferente daquela em que estavam aquando da estreia da série, em 2012.
Girls começou com um poema que Lena Dunham escreveu aos executivos da HBO acerca da vida millenial. Não há qualquer referência às personagens ou sequer ao guião do que seria a série. «É a pior proposta que alguém já viu, é pretensiosa, mas lembro-me de a escrever, sentada no chão, de lingerie, a ouvir Tegan e Sara, e pensar: ‘Sou um génio’», contou ao Hollywood Reporter. O que é certo é que alguém do outro lado reconheceu essa genialidade – também devido a um filme que Dunham tinha escrito, realizado e protagonizado antes, Tiny Furniture – e a série avançou.
E, logo no texto introdutório do primeiro episódio, uma frase escrita por Dunham para a sua personagem Hannah, tinha jeitos premonitórios: «Sou a voz da minha geração… ou pelo menos a voz de uma geração». Depressa se percebeu que esse era efetivamente o papel de Lena Dunham. Logo em 2013, a Time considerou-a uma das cem pessoas mais influentes do mundo. No ano seguinte lançou o seu primeiro livro, Not That Kind of Girl.
Na série, no livro, nos posts nas redes sociais ou na newsletter feminista intitulada Lenny Letter que entretanto criou, o tom é sempre o mesmo: cru, despojado, transparente. É assim quando fala de amor, de sexo, da doença com que lida há muito (a endometriose), de igualdade de direitos ou do direito a cada mulher ter o corpo que bem entender e não ser por isso permanentemente escrutinada. Sim, Lena Dunham tinha razão: é mesmo a voz de uma geração.