Gonçalo Cadilhe. “Sou um viajante, não sou um nómada”

Vir tornou-se tão importante como ir. Se é certo que houve anos em que chegou a ponderar viver noutras latitudes, hoje em dia, a ver os 50 anos já ao virar da esquina, Gonçalo Cadilhe reconhece que não se imagina a viver noutro país que não Portugal. 

No seu mais recente livro, “Nos Passos de Santo António – Uma Viagem Medieval” (ed. Clube do Autor), o viajante reconstitui o périplo da vida do santo por Portugal, Andaluzia, Marrocos, Argélia, Itália e França, descobrindo enquanto o faz um homem que foi, afinal, um dos maiores viajantes da história de Portugal.

Disse, a propósito deste novo livro, “Nos Passos de Santo António”, que era fundamental seguir os passos daquele que é um dos maiores viajantes da nossa história. Já imaginou que, daqui a alguns anos, poderá haver quem queira seguir os passos de Gonçalo Cadilhe?

(risos) Está-se a tornar tão fácil viajar que espero que o desafio seja maior do que seguir aquilo que eu tenho feito. Há uns tempos perguntaram-me se esperava que, daqui a 50 anos, os meus livros ainda fossem lidos. Disse que não, espero que nessa altura haja em Portugal coisas bem mais interessantes para ler sobre literatura de viagens.

Santo António era uma figura obrigatória depois de já ter seguido os passos de outros portugueses como Fernão Mendes Pinto ou Fernão de Magalhães?

Não. Até porque não fazia a menor ideia – e penso que nem a maior parte dos portugueses – que Santo António tinha sido um viajante. Foi essa, aliás, a grande epifania deste projeto, foi quando descobri isso, em Pádua, a cidade onde ele ficou sepultado e pela qual é conhecido no mundo inteiro. Estava lá por razoes que nada têm a ver nem com Santo António, nem sequer com religião, mas aproveitei para tentar perceber porque é que o Santo António de Lisboa era também Santo António de Pádua. Comecei a folhear um livro numa livraria e descobri que ele tinha feito uma grande viagem entre as duas cidades. Com a deformação profissional de escritor viajante achei que, se calhar, estava ali um grande projeto. Nas semanas seguintes comecei a pesquisar sobre a figura de Santo António e apercebi-me de uma outra falha: não existem biografias ou estudos factuais sobre ele. Tudo o que há vem do setor místico e religioso. Ele nunca foi abordado da perspetiva do grande viajante que foi e nunca se tinha escrito a biografia do ponto de vista laico, factual e histórico. Foi este o grande clique para o projeto.

E foi por esse clique que fez questão que este fosse um livro laico e não de um devoto sobre a viagem de um santo?

Sim. E também porque é muito importante transmitir a mensagem de que há uma coerência no meu percurso. O que eu sou e o que eu sei fazer é escrita de viagens. Se estou hoje a escrever sobre Santo António não é porque sou um devoto ou porque a figura me é simpática – é porque ele foi um grande viajante. Abordei este tema porque estava ali uma grande viagem para ser repetida, 800 anos depois. Não vou fazer agora “Nos Passos de São João” ou “Nos Passos de São José”. (risos) O próximo projeto, seja ele qual for, terá a ver com aquilo que me diz respeito: uma mochila às costas, um percurso a fazer e notas em andamento.

Continua a ser sempre a ideia da grande viagem que o motiva para um novo projeto?

Continua, mas um dia pode deixar de continuar. Tenho quase 50 anos, quando surgiu a primeira grande ideia – a volta ao mundo sem aviões – tinha 33 ou 34. Os anos vão passando e, como tudo na vida, vamos mudando aquilo de que gostamos. Antigamente bebia quatro cafés por dia, agora tenho cuidado quando bebo o segundo. As coisas vão mudando. Não sei o que poderá originar o próximo projeto. Mas uma coisa é certa: atravessar África de mochila às costas, dormindo na berma das estradas e apanhando tabefes nas fronteiras por causa da corrupção dos guardas, foi algo que fiz aos 36 anos e que não faria agora. Mas também, se calhar, também não teria interesse nem arcaboiço intelectual para fazer antes este projeto.

Passou a ser um critério importante que o peso da mochila seja inferior ao que era no passado?

Sim. E que a noite seja dormida num hotel e não num banco de autocarro ou de comboio noturno porque no dia seguinte o corpo é que paga.

Além deste lado viajante de Santo António, o que mais descobriu acerca deste símbolo tão popular para os portugueses?

Descobri que Santo António tem uma história de vida interessante, que é pouco conhecida e completamente ofuscada pelos mitos populares que não têm nada a ver com a vida dele, mas sim com o que se criou nos séculos seguintes e até com alguma propaganda salazarista. Aquilo em que me debrucei foi na vida terrena de Santo António, na qual não existe um único milagre. O próprio processo de canonização diz isto. A razão por que ele é feito santo foi porque dedicou dez anos a viajar pela Europa em missões evangelizadoras – fundar conventos; combater heresias que, no século XIII, floresceram muito na Europa, nomeadamente a heresia cátara; e a combater fações que, no interior da igreja, estavam a denegrir a sua imagem. O que encontrei foi a vida, muito preenchida, interessante e terrena, cheia de paradoxos, de um homem. Aparentemente este Santo António que se entregava tanto às massas na sua missão, o que ele adorava mesmo era estar sozinho. Viajou muito, sobretudo tendo em conta que esta era uma Europa desfeita – mil anos depois da queda do império romano ainda não havia estradas.

Quanto tempo demorou a preparar esta viagem?

Meio ano. O processo foi muito facilitado por conversas que tive e livros a que tive acesso na Biblioteca de Pádua – Centro de Estudos Antonianos. São livros de caráter científico, muito recentes – só nos últimos 30 anos se começou a estudar Santo António do ponto de vista crítico e histórico, o que havia para trás era apenas baseado nas hagiografias que são as biografias dos santos, recheadas de fantasia e fé. Este centro de estudos começou a fazer um estudo e eu fui comprando as atas dos congressos e dos encontros científicos que eles foram promovendo, encontros que reúnem historiadores, laicos e religiosos. Tive a sorte de começar a preparar esta viagem numa altura em que já existia todo este material. E depois, a Idade Média está na moda, sobretudo a partir d’ “O Nome da Rosa”, do Umberto Eco. É muito mais fácil agora encontrar literatura sobre os cátaros, que é algo central na vida de Santo António. É também fácil encontrar literatura sobre os caminhos que os peregrinos medievais faziam porque hoje em dia há muito interesse pelo trekking em refazer estes caminhos.

O facto de não ser devoto tornou mais fácil essa abordagem despida de todas as fantasias associadas a Santo António?

Não sei se se foi mais fácil, mas foi mais objetivo. Porque não ser devoto permite-me o distanciamento. Não quer dizer que um devoto não pudesse fazer o mesmo. Mas no meu caso, mais importante do que não me considerar devoto, é considerar-me 100% viajante. Acho que o livro está conseguido porque efetivamente nunca perdi de vista o que queria e o que queria, tal como em “Nos Passos de Magalhães”, era olhar para a biografia terrena na perspetiva do viajante. É uma questão de honestidade. Aquilo que tenho para dar em termos de qualidade de trabalho passa pela experiência adquirida como viajante. Nunca teria a leviandade de escrever um livro sobre futebol. Ou sobre música. O meu objetivo é que, no final da leitura deste livro, o leitor não consiga perceber o que é que o autor pensa ou não pensa sobre religião, Deus, Santo António; mas que consiga perceber o que é que o autor sabe de viagens.

Santo António viajou no tal cenário de uma Europa desfeita. Hoje em dia, será seguramente uma Europa muito mais evoluída, sobretudo em termos de infraestruturas, mas à qual se apresentam outros desafios e problemas, como a questão do regresso das fronteiras ou, pensando numa escala mundial, da construção de muros. Realidades que contrariam a essência do viajante?

Se calhar é o oposto. Se calhar é isso que volta a dar razão de ser à existência do viajante. Num mundo globalizado, onde não há fronteiras, para quê viajar? Para encontrarmos do outro lado do mundo o que já temos cá em casa? Aí sim, a existência do viajante está em causa. Agora, voltando a ter fronteiras e muros onde não sabemos o que está do lado de lá, volta a ser necessária a figura do viajante curioso, que vai e transmite o que encontrou.

Ou seja, o atual cenário, que tantas críticas tem suscitado, a si, enquanto viajante, tem-lhe aguçado a vontade de continuar a viajar?

Diria que esta evolução rapidíssima e desconcertante que o mundo está a ter será mais trabalho para jornalistas de guerra do que para um viajante. O tipo de viajante a que me refiro e que provavelmente regressará com muita força nos próximos tempos tem a ver com aquela fase do Marco Polo, que conseguiu viajar desde a Europa até à China através do Império Mongol sobre o qual nada se sabia, mas uma vez lá dentro dizia-se que uma virgem podia atravessar todo o império com um pote de ouro na cabeça que nada lhe acontecia, tal era a segurança. Isto aqui já não é jornalismo de guerra, é jornalismo de viagens. Agora, como as coisas estão, não está para mim, está para o jornalista de guerra. Quando voltarem a estar quando estavam quando o Marco Polo viajou pelo Império Mongol, volto a viajar. Estou a brincar, claro, mas contextualizando o que disse, uma coisa é perceber o que ainda não vi e gostaria de ver – como, por exemplo, a cidade de Samarcanda [Uzbequistão]; outra coisa é olhar para o estado do mundo e ter curiosidade em ver no que é que tudo isto vai dar. E preocupação. Mas isto não tem a ver com o meu trabalho, tem a ver com eu ser um cidadão. De resto, a minha lista de destinos já tem quase todas as cruzinhas feitas.

Fica claro no livro que Santo António se cruza muitas vezes com pessoas que não sabiam o que era ou onde ficava Portugal. A imagem de Portugal no mundo é hoje muito distinta do que era quando começou a viajar?

Apenas ao nível da imagem que o futebol levou ao mundo é que poderá ter havido um aumento de notoriedade, de resto não aconteceu nada. Nem tem de acontecer. Somos um país pequeno, que conta muito pouco e que faz muito pouco a nível mundial, e portanto não há razão para ter uma notoriedade fora destes parâmetros. Como a Albânia ou o Burkina Faso. Os portugueses vivem mal com a sua porção de notoriedade porque ainda estão a pensar em termos de parâmetros que aconteceram há 500 anos. Mas efetivamente a maior parte das pessoas com quem me cruzo viajando pelo mundo, na condição de mochileiro, em transportes públicos, e contactando a classe média e baixa, não sabe o que é Portugal. Mas só em Portugal é que esta conversa tem interesse. Eu, pelo contrário, acho que devíamos estar todos calados, para o resto do mundo não saber que existimos. No dia em que um iluminado qualquer anunciar que os tremoços de Portugal fazem muito bem ao colesterol, o mundo começa a comprá-los e eu, quando quiser, ao fim da tarde, beber uma cerveja e comer uns tremoços, já não vou poder. Porque é que as pessoas têm a mania que Portugal tem de ser conhecido e de que tudo o que são os nossos produtos têm de ser os melhores do mundo?

Isso é o discurso de um homem que já correu o mundo inteiro e quer preservar o seu cantinho, o seu porto seguro? O verbo vir passou a ser tão importante como o verbo ir?

No meu caso, de viajante profissional em que tenho de terminar projetos e os financiadores desses projetos têm de ver o seu retorno e ver a sua encomenda entregue, regressar significa deixar de ter esse peso sobre os ombros. Costumo dizer que algo fundamental, que levo em todas as minhas viagens, é o bilhete de regresso. Sou um viajante, não sou um nómada. Um nómada não tem casa para onde regressar, eu tenho, e não quero não ter. Já tive fases da minha vida em que me sentia muito mais livre e sentia que podia viver em qualquer lugar do mundo que achasse bom viver, como a Nova Zelândia ou a África do Sul, quando ainda havia o Mandela. Sítios cheios de sol e com ondas boas para o surf. Hoje em dia compreendo que não seria capaz de viver fora de Portugal. Ia ter saudades de todas as coisas que me são queridas e que, à medida que vou envelhecendo, começo a sentir que vou tendo menos tempo para desfrutar.

Isso é o discurso do quase cinquentão?

Claro. Aos 30 anos não tinha esta conversa. É um tipo de raciocínio que só conseguimos formular quando temos quase 50 anos, aos 20 não.

Tem hoje uma visão mais profissionalizada e menos romântica das viagens e do viajante?

Não. Continuo a ter sempre o pragmatismo do trabalho que tem de ser entregue. Mas também continuo a sentir-me um privilegiado, e sei reconhecer que tenho tido a sorte de viver uma vida maravilhosa. Mesmo nos sítios onde vou repetidamente continuo a sentir-me emocionado.

E ainda há sítios que o surpreendem?

Sim! Há uns anos fui pela primeira vez à Birmânia, a Pagan, e pensei que já não existiam no mundo lugares assim. Depois disso já lá voltei várias vezes. Não tenho nada a ideia de que já vi tudo e que nada me surpreende.

Mas continuam a existir no mundo lugares onde não tem qualquer curiosidade em ir?

Sim, o Dubai, o Suriname, a Arábia Suadita… São lugares onde espero nunca ir. Ou às Seychelles.

Fazer férias de pulseirinha é algo que nunca se imaginaria a fazer?

Nunca. De resto, um viajante profissional precisa de férias? A minha família é que precisa de férias. Depois é uma questão de gerir compromissos.

Há pouco falava sobre como agora já não abdica de dormir em hotéis. Essa é a grande diferença entre o viajante de hoje e o de 1991 quando partiu para a primeira grande viagem e escreveu sobre ela?

Não. A grande mudança é a informação. Quando parti para a primeira viagem não sabia nada sobre o que iria encontrar. A própria existência de um livro que dissesse onde havia hotéis e quanto custavam só aconteceu mais tarde, quando descobri os guias Routard, que tinha de mandar vir de França. Esta sim é que é a grande diferença, muito mais do que eu estar mais velho. E é este excesso de informação que mata o romantismo das viagens, é o facto de as pessoas, ainda antes de partirem, já acharem que sabem tudo sobre o destino. Tenho pena das gerações mais jovens, que começam agora a viajar, e às quais falta o sentido da novidade e do inesperado.

Se não fosse o Miguel Sousa Tavares não estaríamos aqui hoje a ter esta conversa?

A vida é feita de encontros – por isto também escrevi o livro “Encontros Marcados”. Esse foi um dos marcantes. Não fazia a menor ideia de que existia algo como o jornalismo de viagens ou que fosse possível ganhar dinheiro assim. Chegavam cá as “National Geographic”, mas a nível nacional foi na “Grande Reportagem” que vi pela primeira vez uma secção chamada Viagens, à data escrita por um Vítor Carvalho, que foi o primeiro português que soube que fazia viagens de mochila às costas e depois escrevia sobre essas viagens. Eu estava a estudar na universidade, Gestão de Empresas, e comecei a pensar que também podia fazer aquilo. Mandei uma carta ao Miguel Sousa Tavares [à data diretor da “Grande Reportagem”] com uma viagem que tinha feito à América Central. E ele respondeu-me, também por carta, a desancar tudo o que estava mal no que eu tinha feito, e a dizer-me como é que tinha de fazer para que ele publicasse o texto. Foi o que fiz e ele publicou. Nesse aspeto devo-lhe todo o percurso que fiz até hoje.

Quando publica esse texto começou logo a pensar que essa poderia ser a sua profissão?

Essa viagem aconteceu do terceiro para o quarto ano de universidade. Depois, durante o curso, fiz outras viagens e publiquei sempre textos. Quando terminei a licenciatura já tinha publicado uns cinco ou seis artigos, na “Grande Reportagem” e também na revista do “Público”. E andava em simultâneo a contactar outros órgãos de comunicação social. Saí da universidade com portas abertas.

E depois tornou-se uma bola de neve?

Sim, mas que levou dez anos, até à altura em que fiz a volta ao mundo sem aviões. A partir de 1991 fui lentamente deixando de fazer outras coisas e fui-me dedicando cada vez mais à escrita. Terminei o curso e ainda trabalhei quase um ano como gestor de marketing na Sogrape, empresa de vinhos. Mas um dia decidi que queria arriscar e despedi-me em 1997, para começar só a escrever, mas sempre com muita precariedade. Entretanto, em 2003-2004, começa a volta ao mundo, que acabou por durar 19 meses, durante os quais escrevi sempre para o “Expresso”.

Quando decidiu demitir-se quais foram as reações das pessoas que o rodeavam?

A opinião dos que me rodeavam foi unânime: não faças isso. Acharam uma loucura total.

A viagem que o afirmou definitivamente como viajante profissional foi a volta ao mundo sem aviões. Como surgiu a ideia?

Foi no seguimento de um projeto em que ganhei dinheiro e portanto tinha dinheiro para investir e tinha uma boa relação com o “Expresso”. Coincide também com a possibilidade de enviar emails estar consolidada e ter passado a ser possível enviar emails com fotografias de quase todo o mundo. E depois, desde muito novo que eu conhecia jovens, sobretudo da Austrália, que andavam um ano a dar a volta ao mundo com uma coisa que era o RTW [Round The World]. Ou seja, desde muito cedo que sabia que havia um bilhete de avião que permitia dar a volta ao mundo. Por honestidade não podia dizer ao “Expresso” que ia fazer o mesmo que outros já faziam. O original seria dar a volta ao mundo sem recorrer a aviões. Quando começou dizíamos que era a volta ao mundo em oito meses, mas depressa percebemos que seria necessário mais tempo. Foram 19 meses.

Quando se termina uma viagem dessas, tão longa, começa-se logo a pensar na próxima ou bem pelo contrário?

África tinha ficado de fora e tinha ficado bem definido na minha cabeça que tinha de o fazer. E foi o que fiz, um ano e meio depois. Mas pelo meio tive outros projetos, como o livro sobre a volta ao mundo.

Mas quando se passa tanto tempo fora, quando se regressa há a sensação de não pertencer? Porque a vida de quem ficou cá continuou…

Há muito tempo que esse sentimento de não estar cá e de não acompanhar, não faz parte da minha vida. Agora, posso dizer que tenho muitas pessoas conhecidas mas não tenho um grupo que seja o meu grupo e que esteja só num local. Tenho bons amigos em muitos sítios. E tenho pessoas com quem falei três horas que me marcaram muito.

Foi o surf, ainda antes da escrita, que o fez começar a viajar. Continua a surfar todos os dias?

Ainda antes do surf já era escuteiro e já viajava nessa condição, com a mochila às costas. Mas depois foi pelo surf que comecei a viajar mais. Ia atrás das ondas. Hoje em dia, se estiver bom tempo, surfo. Vivo na Figueira da Foz e vou todos os dias a pé para a praia.