A alegoria não é difícil de capturar. Na capa da última edição da revista alemã "Der Spiegel", Donald Trump aparece com a cabeça decapitado da Estátua da Liberdade, ainda gotejando sangue, uma faca na mão do novo presidente norte-americano e, abaixo, o resumo da sua política: "A América Primeiro".
"Não tem gosto nenhum", reagiu o vice-presidente do Parlamento Europeu e membro do partido alemão Democratas Livres, Alexander Graf Lambsdorff, representando um dos lados do debate aceso que a publicação alemã despertou em torno da sua capa – nem Casa Branca nem governo alemão reagiram.
Para o seu autor, porém, a imagem justifica-se e tem o mérito de transmitir uma ideia clara. "É a decapitação da democracia, a decapitação de um símbolo sagrado", argumenta Edel Rodriguez, cubano-americano que trocou o regime de Fidel Castro pelos Estados Unidos em 1980.
Nem todos concordam. A revista alemã escolhe publicar a ilustração num momento frágil para as relações entre Berlin e Washington. Desde que Trump chegou ao poder – ainda por cima particularmente sensível quanto à forma que a imprensa trata a sua imagem – Estados Unidos Alemanha parecem ter trocado a amizade prioritária dos anos de Obama por uma relação de mútuas críticas.
No mês passado, por exemplo, Donald Trump disse que a chanceler Angela Merkel cometeu um "erro desastroso" ao permitir a entrada de mais de um milhão de requerentes de asilo no seu país ao longo dos últimos dois anos. Pelo seu lado, Merkel tornou público o telefonema em que criticou diretamente o presidente americano pela ordem executiva de suspensão de viagens e do programa nacional de acolhimento de refugiados, revelando que o advertiu para as regras da lei internacional, numa mensagem lida por muitos como um alerta paternalista.
American Psycho: this week’s cover of German magazine @DerSPIEGEL #AmericaFirst pic.twitter.com/gjwEq05KKm
— Mathias Wasik (@mathiaswasik) 3 de fevereiro de 2017