Reencarnar numa árvore, dar música aos seus amigos ou andar ao peito daqueles que amou. São muitas as opções disponíveis em Portugal no que toca à forma de preservar as cinzas de quem mais gostamos, mas lá fora existem métodos ainda mais criativos.
A cremação nunca foi um tema pacífico no seio da Igreja Católica. No final de 2016, esta determinou, num documento aprovado pelo Papa Francisco, que as cinzas dos defuntos devem ser mantidas em locais sagrados, proibindo assim a sua dispersão na natureza e outros sítios. No entanto, são muitas as pessoas – crentes ou não – que continuam a querer que os seus restos mortais sejam espalhados na natureza. Um dos métodos mais apreciados é a dispersão das cinzas no mar. E qualquer pessoa pode pedir ajuda à Marinha portuguesa para realizar esta cerimónia, mas também há várias agências funerárias que providenciam este serviço, disponibilizando embarcações para transportar familiares e amigos até ao local escolhido. No final, algumas empresas fornecem um comprovativo da localização onde as cinzas foram depositadas.
Mas há quem prefira manter os restos mortais da pessoa que ama perto de si – umas optam por meios mais convencionais, outras honram o lado mais criativo de quem morreu. Um dos métodos mais conhecidos é, claro, o armazenamento das cinzas em urnas: madeira, inox, loiça e aço são alguns dos materiais utilizados. No entanto, existem algumas mais inovadoras – a agência funerária Servilusa, por exemplo, oferece urnas zen, personalizadas e ecológicas. Uma das opções desta última categoria é uma urna biodegradável, onde a família pode enterrar as cinzas de quem faleceu num pequeno vaso com uma planta ou sementes.
E existe também a opção de manter uma ‘parte’ de um ente querido numa jóia. Várias empresas – até em Portugal – dão a opção de criar um diamante cuja gema é fabricada a partir do cabelo da pessoa que morreu, por exemplo. Este processo implica a utilização do carbono procedente do cabelo humano. Em muitos casos, a jóia é depois utilizada num pêndulo, para que possa ser usada facilmente no dia-a-dia. Há também quem opte por uma medalha com a impressão digital da pessoa falecida. Corações, estrelas, círculos, são vários os formatos destes ornamentos, que ‘transportam’ quem já partiu.
Se em Portugal já existem muitas opções para preservar as cinzas perto da vista e do coração, lá fora foram criados métodos ainda mais inovadores que desafiam as crenças dos conservadores… E algumas delas nem sequer implicam a cremação do corpo: em Itália, por exemplo, surgiu o Capsula Mundi, um projeto que tem como objetivo o desenvolvimento de uma cápsula orgânica e biodegradável que transforma um corpo em decomposição em nutrientes para uma árvore. O corpo é colocado neste compartimento e enterrado. Depois, é plantada uma árvore no mesmo local e a planta aproveita a decomposição orgânica do corpo e os nutrientes disponíveis para crescer.
Para quem preferir optar pelo lado mais criativo e deixar a natureza em paz, no Crematório Vaticano, em Curitiba (Brasil), é possível transformar as cinzas em verdadeiras obras de arte: os restos mortais são incorporados nos materiais usados para pintar retratos, paisagens ou objetos. Já em Inglaterra, o escultor Robert Taylor inclui as cinzas nas suas obras de arte, que depois podem ser preservadas em casa ou ao ar livre. E a And Vinyly, uma empresa britânica, disponibiliza-se a incorporar as cinzas em discos de vinil – este método pode, no entanto, comprometer o áudio e tal deve-se ao facto de a agulha ‘bater’ nos pedaços incrustados no disco.
Algumas pessoas tentam fazer do final da vida um momento de celebração e não de tristeza. Para esses que preferem um funeral mais alegre, existem opções no Reino Unido que tornarão este momento muito mais feliz. É o caso da Heavens Above Firework, que cria espetáculos de fogo-de-artifício com as cinzas de quem morreu. Mas se o sonho dessa pessoa era fazer uma viagem ao espaço, o melhor é optar pela Stardust Ashes, uma empresa que envia as cinzas para a estratosfera.