A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, pela voz do provedor, Pedro Santana Lopes, demarcou-se da polémica com as apostas relativas ao jogo entre o Feirense e o Rio Ave, da passada segunda-feira. O antigo primeiro-ministro lembra que a Santa Casa apenas «cumpriu a lei», pelo que nada tem a temer. «Aqui o que importa dizer é que cumprimos a lei e o que o regulamento prevê. Comunicámos às autoridades competentes, e não é a Santa Casa que tem de avaliar mais o que se passa ou investigar, isso já é com outras entidades, não connosco», afirmou Santana Lopes, à margem da assinatura do Acordo de Empresa com sindicatos afetos à CGTP e à UGT, no Museu de São Roque.
Na tarde do dia 6, a Santa Casa suspendeu as apostas no Placard referentes à partida entre o Feirense e o Rio Ave, justificando mais tarde a decisão com o «volume atípico de apostas registado e o risco financeiro envolvido». A equipa de Santa Maria da Feira acabaria mesmo por vencer o encontro, por 2-1. «Quando há um excesso de concentração de apostas, num prognóstico ou num jogo num curto espaço de tempo, soam as campainhas de alarme. Aliás, os operadores de jogos podem suspender as apostas nos jogos e nos prognósticos mesmo quando há apostas em excesso sem haver concentração só num certo período de tempo. É a chamada responsabilidade financeira em casos de risco», salientou Santana Lopes, referindo-se depois a este caso concreto: «Se há uma concentração de apostas num prognóstico e o jogo prevê que se pague quatro ou cinco vezes o valor da aposta, isso dá uma responsabilidade muito grande para o operador».
O clima de suspeição à volta do futebol português, mas também da própria Santa Casa, ficou mais acirrado após esta situação. Santana Lopes, porém, afasta quaisquer cenários de corrupção no organismo relacionados com os jogos de azar. «Isso é uma ideia errada. Se a Santa Casa não cumprisse o que tem de fazer, que ideia é que ficava no ar? São as autoridades competentes que têm de investigar e certificar-se de quem desencadeou a situação», realçou o político de 60 anos, lembrando ainda já terem existido situações semelhantes com outros jogos a nível mundial: «Não foi só a Santa Casa nem foi um fenómeno localizado exclusivamente em território nacional».
Desde quarta-feira, corre já um processo no DIAP (Departamento de Investigação e Ação Penal) de Aveiro (Secção de Santa Maria da Feira) de inquérito instaurado pelo Ministério Público para investigar o caso, que está longe de ser novidade em Portugal. Ainda em maio do ano passado, deu brado a operação ‘Jogo Duplo’, com vários jogadores e dirigentes de Oliveirense, Leixões, Atlético e Oriental a serem detidos para interrogatório na Polícia Judiciária imediatamente após o fim da última jornada da II Liga. Em causa, alegados subornos com dinheiro proveniente da Ásia…