Melhor filme, melhor realizador, melhor atriz principal, melhor fotografia e melhor música original. Cinco prémios dos nove possíveis. Foi esta a soma vitoriosa de “La La Land: Melodia do Amor”, na 70.a edição dos prémios da Academia Britânica de Cinema e Televisão. Desta forma, o filme escrito e realizado por Damien Chazelle viu reforçada a ideia de que dificilmente os Óscares, a 26 de fevereiro, lhe escaparão.
O musical que conta a história de amor entre a aspirante a atriz Mia (Emma Stone) e o músico apaixonado por jazz Sebastian (Ryan Gosling) deixou para trás “Moonlight”, de Barry Jenkins, “O Primeiro Encontro”, de Denis Villeneuve, “Eu, Daniel Blake”, de Ken Loach, e “Manchester By The Sea”, de Kenneth Lonergan, mas sobretudo “Animais Noturnos”, de Tom Ford, que também recebeu nove nomeações, não tendo, no entanto, arrecadado qualquer galardão.
Ainda assim, a verdade é que os BAFTA distribuíram prémios por 15 filmes, não confirmando a hegemonia que se antevia para “La La Land: Melodia do Amor”. Dev Patel recebeu o BAFTA para melhor ator secundário por “Lion – A Longa Estrada Para Casa”, filme que arrecadou ainda o prémio para melhor argumento adaptado. Na categoria de melhor atriz secundária venceu a interpretação de Viola Davis em “Fences”. Ainda no campo da interpretação, o público dos BAFTA distinguiu Tom Holland como melhor intérprete-revelação pela sua prestação em “Homem-Aranha”.
Já Casey Affleck arrecadou o galardão para melhor ator principal pela interpretação em “Manchester By The Sea”, filme que também venceu o prémio para melhor argumento original, para o também realizador Kenneth Lonergan, que aproveitou o momento em palco para parabenizar a filha de 15 anos, que tinha acordado em lágrimas após a vitória de Donald Trump nas presidenciais e que, desde então, marcou presença em cinco marchas de protesto: “Estou muito, muito orgulhoso.”
De resto, e tal como tem sido usual em todas as cerimónias de prémios da sétima arte desta temporada, a política foi prato forte na cerimónia que decorreu no Royal Albert Hall, em Londres. Não apenas Trump, mas também o Brexit e a política inglesa em geral. Emma Stone, por exemplo, aproveitou o momento em que agradeceu o prémio para melhor atriz para se manifestar contra um tempo divisivo: “Não sei se já se aperceberam mas, neste momento, este país e os EUA e o mundo parecem estar a viver um tempo divisivo, e é bom podermos estar aqui todos juntos, graças aos BAFTA, para celebrar a dádiva positiva da criatividade e como ela transcende as fronteiras e pode ajudar as pessoas a sentirem-se menos sozinhas. Sinto-me muito grata e sortuda por estar aqui.”
As palavras mais duras da noite vieram, no entanto, da boca de Ken Loach, que subiu ao palco por “Eu, Daniel Blake”, vencedor do galardão para melhor filme britânico. O realizador de 80 anos agradeceu à academia inglesa por endossar uma verdade: de que “as pessoas mais vulneráveis e pobres são tratadas por este governo com uma brutalidade insensível que é vergonhosa. É uma brutalidade que se estende às crianças refugiadas que prometemos ajudar”, começou por dizer. E Ken Loach prosseguiu o discurso dizendo que “os filmes podem fazer muita coisa, podem entreter, podem horrorizar, podem levar-nos a mundos imaginários, podem fazer-nos rir e podem dizer-nos algo acerca do mundo real em que vivemos. E esse mundo real está, como sabemos, a ficar cada vez mais negro. E na luta entre os ricos e os poderosos, as grandes empresas e os políticos que falam por elas, e as restantes pessoas, nós, os realizadores de filmes, sabemos de que lado estamos”.