Vários membros da administração americana de Donald Trump estão envolvidos no financiamento de colonatos ilegais na Palestina, segundo descobriu o site francês Mediaparte.
Segundo as declarações de impostos que o Mediaparte consultou, a fundação da família de Jared Kushner, genro e conselheiro do presidente Trump, deu mais de 33 mil dólares ao colonato ilegal Beit El, considerado um bastião do sionismo religioso e da campanha para alargamento da ocupação ilegal de territórios palestinianos. Os cheques, da fundação de que o próprio Kushner faz parte, foram passados à associação American Friends of Bet EI Institutions, uma associação presidida pelo advogado e amigo de Donald Trump David Friedman, nomeado pelo novo presidente embaixador dos EUA em Israel. No colonato de Beit El existem vários projetos pagos pela associação dirigida pelo novo embaixador dos EUA em Israel. Entre essas ajudas conta-se a criação de um centro de preparação militar e uma rádio por internet. O novo embaixador também subsidia a escola talmúdica dirigida pelo rabino Zalman Melamed, figura de proa da extrema-direita e apoiante do partido pela colonização HaBayt HaYehudi. Segundo o jornal israelita “Jerusalem Post”, o próprio Donald Trump terá doado, através da sua fundação, dinheiro para este colonato ilegal. A doação simbólica teria sido de 10 mil dólares em 2003. Embora uma soma diminuta, teria sido dos maiores contributos dados esse ano pela fundação de Donald Trump.
Depois da tomada de posse do novo presidente dos EUA, o governo israelita teria dado a ordem para a construção de novos colonatos ilegais, embora estes tenham sido explicitamente condenados pelo Conselho de Segurança da ONU, com abstenção dos EUA, numa últimas ações do governo Obama.
Recorde-se que na Cisjordânia há 196 assentamentos e 232 postos avançados (embriões de futuros colonatos) – todos ilegais segundo o direito internacional e os Acordos de Oslo. Segundo análises de fotografias aéreas feitas pelo think tank ARIJ, há cerca de 800 mil colonos judeus em territórios palestinianos (mais de 400 mil na Cisjordânia e 360 mil em Jerusalém Leste).
De acordo com os dados desta organização, o número de colonos ilegais em territórios palestinianos triplicou nos últimos 20 anos. A projeção demográfica do ARIJ (Instituto de Investigações Aplicadas de Jerusalém) prevê que haja, em 2020, um milhão de colonos israelitas na Cisjordânia e 2,2 milhões em 2040.
Acresce que Israel coloca centenas de checkpoints em território palestiniano para garantir a segurança destas ocupações ilegais, impossibilitando a vida das populações: “Um palestiniano pode demorar mais de sete horas a atravessar a Cisjordânia, enquanto um colono faz o mesmo percurso em 35 minutos”, diz ao “El Mundo” Jad Isaac, diretor-geral do ARIJ.
O processo tem muito tempo: “Em 1948, Israel estabeleceu-se em 78% do território da Palestina. Depois da guerra de 67, os palestinianos ficaram só em 22%. Em 2000, Ehud Barak ofereceu aos palestinianos um Estado sem fronteiras externas e sem Jerusalém em 18% do território. Em 2005 já só lhes restava 11%, com a Cisjordânia cortada em quatro pedaços.” E conclui o diretor da ARIJ: “O projeto de Netanyahu é o seguinte: ficar com tudo. Nada de dois Estados (um palestiniano e um israelita).”
Como afirmou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, “a política de assentamento de colonatos e demolições de casas de palestinianos, a violência e a incitação dizem-nos claramente que as perspetivas que Oslo abriu estão em perigo”.