Tem amor, tem drama, tem tragédia. Não era preciso juntar mais nada à história de amor de Pedro e Inês, mas mesmo assim houve quem quisesse acrescentar um ponto a este conto. Este ponto ergueu-se em forma de palácio, no século XVIII, tomou forma de hotel em 1995 e é agora apresentado em versão renovada e acabada de estrear.
Para bem da história mantêm-se os pianos, ainda que desafinados, a dar o charme que o espaço exige, os candeeiros e os tetos trabalhados que obrigam o pescoço a dobrar para apreciar esta forma de arte e uma biblioteca que só por si conta uma história. Aqui, as estantes quase que servem de cronologia, ou não se encontrassem aqui relíquias como o “Diário da República” de 1977, a “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira” que fazia a vez da internet para os nascidos até à década de 80 ou os contos de Stephen King, cujas cores garridas destoam dos tons de castanho e pó típicos de uma sala pouco manuseada.
Assim como há partes em que a história fala mais alto que as linhas modernas, outros há que mereceram alterações que põem o século XVIII ainda mais no passado. Desta lista fazem parte uma receção mais completa, a instalação de novas televisões e uma rede de wi-fi reforçada. Dentro dos quartos, a remodelação ficou a cargo da Broadway Malyan que teve sob si o peso de conseguir criar um espaço contemporâneo, preservando a riqueza histórica. É por isso que se mantiveram os tons azuis típicos da realeza em Portugal, os dourados dos candeeiros ou dos espelhos, mas aos quartos – que passaram de 52 a 55 – deram-se novas camas, retocou-se chão e pintura de paredes e instalou-se um novo ar condicionado.
Sem nunca fecharem portas – “um autêntico desafio”, admite Alberto Gradim, o diretor do hotel – foi ainda possível renovar o espaço de spa, que conta agora com piscina interior, sala de massagem, sauna, banho turco e ginásio. E nem entre toucas obrigatórias para entrar na piscina ou o ar cansado de quem sai da passadeira, o romance é esquecido: as massagens “Pedro & Inês” são feitas a dois, seja com recurso a óleos ou pedras quentes.
Comer amor E se não é no bem-estar que se perde o romantismo, não é no bem comer que isso acontece. Vai daí que o pão servido tanto no pequeno-almoço como de couvert seja em forma de coração. “Oooohhhhhhh”, parece que já ouvimos as reações a esta criação que pode ser branco, de centeio ou com passas. E se dissermos que uma das sobremesas do restaurante “Pedro e Inês” é uma pannacotta de frutos vermelhos, também em forma de coração? Pronto, já chega de lamechices. Passemos aos pratos principais, esses sim com uma capacidade de consolar corações e, neste caso, estômagos, quase tão eficaz como uma tarde de Bridget Jones, matinha e sofá.
No “Pedro e Inês”, restaurante que passou para o edifício principal, o menu com o mesmo nome é o que apresenta os sabores mais tradicionais. Não falta a açorda de alheira, a esmagada de bacalhau, barriga de leitão crocante e um leite creme, “a nossa receita secular de família”, descrição comprovada por uma camada estaladiça de açúcar queimado. Já no “Arcadas”, o outro restaurante do hotel, o conceito de fine dining foi mantido, ainda que o chefe seja novo. Vítor Dias lidera uma cozinha de onde saem pratos que de tão bonitos, até dá pena comer. Deixamos como dica as palavras “floresta doce” e o resto fica para quem lá vai.
Os jardins Com tanto passeio entre quartos e pratos, quase que fugíamos ao essencial. Afinal, foi a tragédia que nos trouxe até aqui e é de forma trágica que acabamos.
Apesar de serem 12 os hectares de jardins botânicos que rodeiam o edifício, há dois pontos de paragem obrigatória. Cláudia Duval vai mais longe e apresenta números: 90% dos visitantes vêm de propósito para conhecer as lendas que enchem de simbolismo as duas fontes do jardim. E é na Fonte dos Amores que a guia faz a primeira paragem, mas desengane-se quem pensa que vão começar a ser debitados nomes de reis, rainhas, datas históricas e séculos que nos põem a fazer contas de cabeça. “D. Pedro foi o precursor das sms”. E é com esta frase que Cláudia prende a atenção dos que já estavam de cabeça levantada a apreciar a botânica.
Junto à Fonte dos Amores, Cláudia explica que a rainha Santa Isabel mandou construir este canal para levar água até ao Convento de Santa Clara. “D. Pedro deu-lhe outro uso, aproveitando a força das águas para enviar barquinhos de madeira que serviam de mensagem para D. Inês”. Daí a analogia.
Como todas as boas histórias, também esta tem um lado negro que aqui se perpetua na Fonte das Lágrimas, cuja forma, em cruz, ajuda a dar um tom mais dramático ao local onde morreu D. Inês. Já para não falar do mítico vermelho que pinta as pedras e que sempre foi associado ao sangue derramado pela rainha póstuma. “Entretanto já se sabe que a cor vem de umas micro algas”, conta Cláudia, “mas vamos esquecer essa parte e deixar o amor contar a história”.
JÁ QUE ESTAMOS EM COIMBRA…
MUSEUS
Museu Machado de Castro
Os cem anos do museu foram assinalado em grande, com uma ampliação e remodelação que fazem deste espaço uma referência mundial quando se fala de escultura.
Preço €6
Horário terça das 14h às 18h; quarta a domingo das 10h às 18h
Morada Largo Dr. José Rodrigues
FADOS
Fado ao centro
Este é um projeto que nasceu em 2010 e que pretende dar a conhecer o Fado de Coimbra. Todos os fins-de-tarde, três músicos – que são ou foram estudantes de Coimbra – apresentam um espetáculo de 50 minutos, mas durante o dia o espaço está aberto para quem queira saber mais sobre esta tradição.
Preço €10, com direito a porto de honra
Hora 18h, todos os dias
Morada Rua Quebra-Costas, 7
RESTAURANTES E BARES
LOGGIA
É o restaurante do Museu Machado de Castro e, por estar na zona alta de Coimbra, tem uma vista que já faz merecer uma visita. Projetado pelo arquiteto Gonçalo Byrne, propõe um menu que pode começar por uma sopa de peixe ou açorda de bacalhau, passando por um arroz caldoso de peixe e marisco, e que termina em grande com uma trilogia conventual.
Preço €25
Horário terça e domingos das 10h às 18h; quarta a sábado das 10h às 22h30
Morada Largo Dr. José Rodrigues
Bar quebra costas
Há 30 anos que obriga a uma paragem na subida da rua mais exigente de Coimbra. Aqui dá-se um encontro de gerações, até porque não há idade para apreciar um gin ou um espetáculo de jazz ao vivo
Hora segunda da meia-noite às 4h; segunda a sexta das 12h às 4h e sábado das 14h à meia-noite
Morada Rua de Quebra Costas, 45