Na última quarta-feira, centenas de pessoas manifestaram–se contra a violência policial nas cidade de Lille, Ruão e Paris. Os protestos foram rodeados de um forte dispositivo policial que não evitou confrontos, aos quais se seguiram dezenas de detenções.
Em Ruão, a 140 quilómetros de Paris, registaram-se dois feridos hospitalizados e 21 pessoas foram detidas pela polícia. Em Lille, mais de 500 pessoas marcharam sem incidentes num ato político convocado para protestar contras “as humilhações e as detenções e revistas de caráter racista feitas pela polícia”. Em Paris sucedeu-se uma manifestação “espontânea” nas imediações da estação de metro de Barbès-Rochechouart, perto de Montmartre, no norte da cidade. Nesta ação contra a violência policial participaram cerca de 400 pessoas, segundo revelou fonte policial. Pelas 19 horas ocorreram os primeiros confrontos: manifestantes lançaram objetos contra os agentes da autoridade, que responderam com granadas de gás lacrimogéneo.
Desde que começaram os protestos, há uma semana, já foram detidas pela polícia mais de 200 pessoas. Esta vaga de manifestações acontece depois de um jovem ter sido agredido e violado com um cassetete numa esquadra da polícia.
O governo pretende tomar medidas que evitem que esta vaga de protestos e confrontos possa desaguar em motins comparáveis aos de 2005.
Recorde-se que, nesse ano, dois jovens, Zyed e Bouna, morreram eletrocutados durante uma perseguição policial. Ao longo das três semanas de protestos e confrontos que se seguiram, mais de 300 edifícios foram danificados, 10 mil carros incendiados e 140 polícias feridos. Em julho de 2016, o jovem Adama Traoré, de 24 anos, morreu depois de ter sido interrogado numa esquadra. Nas manifestações do passado fim de semana havia um cartaz em que se podia ler: “Théo e Adama recordam-nos a razão por que Zyed e Bouna fugiam.”
O ministro do Interior, Bruno le Roux, reuniu-se na quinta-feira com os prefeitos e subprefeitos responsáveis pelas políticas de segurança e da cidade na região de Paris e Île-de-France sobre a situação nos bairros problemáticos. A reunião abordará o difícil dossiê das relações entre a polícia e os habitantes dos subúrbios.
A investigação sobre o caso de agressão e de violação do jovem Théo, 22 anos, continua, estando neste momento suspensos os quatro polícias envolvidos na sua detenção.
Muitas personalidades do mundo dos espetáculos e das artes pronunciaram-se numa tribuna no jornal “Libération” por uma “vigilância acrescida no recrutamento de polícias”. Segundo eles, há uma infiltração organizada de jovens militantes de um “conhecido partido político” [a Frente Nacional] para poderem cometer um conjunto de ações e crimes racistas “com toda a impunidade”, afirma-se neste espaço do “Libération”.
Estas declarações levantaram muita polémica, levando a direção da polícia a reagir com dureza. A este respeito, o diretor-geral da polícia nacional, Jean–Marc Falcone, afirmou não poder aceitar que “dezenas de milhares de jovens franceses que desejaram entrar para a polícia sejam insultados com este tipo de designação”.
Com ou sem racismo, sucedem-se as reportagens, como as do diário “Le Monde”, em que o título é uma denúncia dos habitantes dos bairros: “Os controles violentos são o nosso dia-a-dia.”