José Nogueira. Morreu o homem da coragem discreta

Morreu José Nogueira, 97 anos, uma das grandes figuras do anti-fascismo, advogado, capitão-de-fragata, antigo militante do Partido Comunista Português, protagonista da fuga de Agostinho Neto de Portugal para Marrocos. Será cremado amanhã, no Cemitério dos Olivais, pelas 9h30. Bem perto da sua última morada, na Encarnação. Deixa viúva Elisa Nogueira.

“Era um homem de extraordinária coragem”, diz Manuel Alegre, que conheceu bem José Nogueira. “Estive com ele em Argel, onde trabalhou como motorista. Tínhamos em comum o gosto pela caça e pela pesca. Foi do PCP, mas acabou por sair. Também era amigo de Pinheiro de Azevedo e fez parte da Junta Patriótica. Quando da tentativa de golpe de 1977, em Luanda, foi dos primeiros a surgir ao lado de Agostinho Neto. Profundamente discreto, era daqueles homens que mudava a História mas que se punha à margem dos acontecimentos”.

Em 1962, Agostinho Neto estava em Lisboa. Preso. Primeiro no Aljube. Depois passou a regime de residência fixa. Seria José Nogueira a tratar das disposições para a sua fuga, a 30 de Junho, num plano em cuja génese estiveram os seus camaradas Dias Loureiro, Blanqui Teixeira e Arménio Loureiro, todos afectos ao PCP. Primeiro-tenente da Armada Portuguesa, José Nogueira ficou com a incumbência de aquirir um pequeno iate de recreio e mantimentos capazes de garantir a viagem até Tânger, em Marrocos. Mais tarde, conduziria também o dirigente do MPLA até Argel.

Foram sempre ligados. José Nogueira estaria em Angola, após a independência, durante vários anos, tendo depois da morte de Agostinho Neto regressado a Portugal onde levou uma vida fora de todos os protagonismos.