Hoje mesmo regressa o campeonato. Em Guimarães, pelas 19 horas, num dérbi minhoto entre Vitória de Guimarães e Moreirense, duas equipas que sabem ao que vão. E explico. No quinto lugar, tendo perdido nas últimas jornadas pontos fundamentais que lhes permitiriam olhar gulosamente para o terceiro posto, para já pertença do Sporting, ligeiramente atrás do Braga, ligeiramente à frente do Marítimo, os rapazes do castelo que foi berço da pátria estarão naquela fase de incerteza: pensar no alto ou preocupar-se com o rés-do-chão? Com os madeirenses ali a cheirarem-lhes as botas, o facto é que o posto europeu não está garantido. E, provavelmente, continuar a ambicionar um lugar no play-off da Liga dos Campeões já não será realista. Quanto aos vizinhos de Moreira de Cónegos, garbosos vencedores da Taça da Liga – deixem lá essa patetice do campeão de Inverno, com franqueza! –, que ainda há poucas semanas pareciam disparados para uma tranquilidade efetiva, cabe-lhes agora a vida difícil de um aperto inesperado. É verdade que, nesta altura da prova, quatro pontos são valiosíssimos e são quatro pontos aqueles que têm de vantagem em relação ao Nacional da Madeira, primeiro dos clubes abaixo da linha de água. Só que, de repente, não mais que de repente, esta jornada pode fazer com que as ondas alterosas da ameaça da descida cheguem ao verde Minho, bastando para isso um resultado mau em Guimarães e um resultado bom dos funchalenses na receção ao Feirense.
Pela noite
Na Luz, o Benfica recebe o Desportivo de Chaves, assim mesmo por extenso porque o merece, impante no seu sétimo lugar, a quatro pontinhos da presença na Liga Europa, viva lá o velho!, e com uma tranquilidade baseada num futebol de qualidade e em resultados muitíssimo interessantes que o fazem, vejam lá bem, ter tantas derrotas ao fim de 22 jornadas como o Sporting, até há não muito candidato ao título: quatro.
Não pode, por isso, Dona Águia prever noitinha descansada no seu ninho da Segunda Circular, agora muito mais benfiquisticamente chamada Av. Eusébio da Silva Ferreira naquele naco que deixou de pertencer à Norton de Matos. É verdade que a forma como tem conseguido obter vitórias em confrontos com grau de dificuldade elevado lhe permite dose agradável de otimismo e favoritismo, com perdão de tanto ismo. Cabendo-lhes, desta vez, jogar primeiro do que o seu único adversário na luta pelo título, o FC Porto, os benfiquistas poderão ir dormir descansadinhos num fofo colchão de quatro pontos de avanço. E esperar que, no domingo, pelo rondar das oito e pouco da noite, os dragões encontrem no Bessa dificuldades que costumavam fazer parte do passado.
Um fenómeno!
Escrevi aqui, nestas linhas, que seria certamente desagradável a visita da Velha Senhora às Antas. Foi com profunda estranheza que fui lendo, aqui e ali, e ouvindo da parte de treinador e jogadores portistas uma série de frases, de comentários, de teorias que serviam para colocar o FC Porto no mesmo patamar que a Juventus, tornando esta eliminatória um campo de equilíbrio que tinha tudo de fantasista e nada de factual. Foi sem espanto que assisti à forma como o campeão italiano desmembrou calmamente o terceiro classificado do último campeonato português. Querer utilizar o play-off contra a Roma como paralelo com este confronto dos oitavos-de-final não foi apenas insensato, mas também esclarecedor de uma falta de conhecimento e da realidade do futebol das três equipas trazidas à colação. A superioridade da Juventus foi tão evidente – até mesmo antes da expulsão estúpida de Telles – que só poderia surpreender gente absolutamente distraída. Desde o primeiro minuto que a equipa de Nuno Espírito Santo (logo ele, que costuma ser tão ponderado, veio pedir clemência ao árbitro depois daquela calamidade?) foi um parceiro menor de um combate desigual. Retraído, refugiado no seu meio-campo, abusando das faltas, procurando aguentar o adversário o mais tempo possível distante da baliza de Casillas, o FC Porto deu, logo de início, a ideia de que tudo se resumiria a uma questão de tempo. E assim foi. A derrota natural, límpida como o sorriso de Gina Lollobrigida, veio apenas colocar as coisas nos seus respetivos lugares. Agora, de regresso ao campeonato, podem os dragões voltar a cuspir fogo. Logo contra o vizinho da Avenida da Boavista, ali ao Bessa, num embate com muito de histórico. Às vezes mais vale cair das nuvens do que de um terceiro andar, como dizia Machado de Assis. Ainda por cima quando as nuvens ficam lá muito, muito mais acima do que qualquer terceiro andar…